terça-feira, outubro 28, 2008

Maioria dos governadores não emplaca apadrinhados

Contrariando prognósticos, os resultados das eleições municipais mostraram a incapacidade de governadores-estrela e do presidente Lula de transferirem votos e elegerem “candidatos-postes” ou outros políticos desprovidos de luz própria. Dos 26 governadores do Brasil envolvidos diretamente no pleito, apenas 11 viram seus candidatos serem eleitos no primeiro ou no segundo turno. É o caso, por exemplo, de São Paulo e Porto Alegre. O número reduzido de governadores que emplacaram prefeitos nas capitais este ano é uma prova de que o eleitor foi subestimado. Quem avalia é Paulo Kramer, cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB). “É imatura a crença de que o presidente ou certos governadores poderiam eleger até um poste. Se considerarmos as amplas expectativas geradas, o resultado dessas eleições mostra que Lula não consegue transmitir votos, mas sim um resfriado através de seu pé”, resume. Para o professor David Fleisher, é fato que os governadores têm mais possibilidade de transferir votos que os presidentes, mas nem sempre isso acontece. No Rio Grande do Norte, a força de Lula e de Wilma Faria (PSB) não conseguiu fazer Fátima Bezerra (PT) vencer Micarla Sousa (PV), apoiada pelo DEM. Ainda assim, algumas dessas 11 vitórias não significaram exatamente o fortalecimento do governador em questão.
Em Minas Gerais, houve a vitória no segundo turno de Márcio Lacerda (PSB), que durante a primeira etapa do pleito ficou escondido sob a sombra dos padrinhos políticos, o governador Aécio Neves (PSDB) e o prefeito Fernando Pimentel (PT). Mas isso não ajuda o tucano em seu projeto para 2010. Ao contrário: “Mesmo tendo feito seu candidato no segundo turno, Aécio sai menor que [José] Serra”, opina Kramer. Dentro do PSDB, os dois governadores travam uma disputa para serem escolhidos como candidatos do partido para as eleições presidenciais de 2010. Para Kramer, o governador de Minas investiu tanto no triunfo de Lacerda no primeiro turno que acabou obscurecendo a luz de seu candidato. O eleitorado não gostou. “Eles exigiram a cortesia mínima de saberem quem era o adversário de Leonardo Quintão.” A população não queria votar em alguém apenas porque era apoiado por Aécio. “Foi uma transferência negativa. O feitiço virou contra o feiticeiro”, comenta Fleischer.

Apoios decisivos

O peso do apoio de um governador foi notado no Rio de Janeiro. Eduardo Paes (PMDB) teve uma vitória apertada sobre Fernando Gabeira (PV) – com uma diferença de votos equivalente a menos da metade de um Maracanã. Segundo Kramer, isso demonstrou que, em certos casos, o governador Sérgio Cabral (PMDB) e o presidente Lula podem ser decisivos. Com o governo bem avaliado pelos cariocas, Cabral empenhou-se em eleger seu candidato e contou, para isso, com o apoio declarado do presidente da República a partir do segundo turno. O respaldo dos tucanos e a simpatia do eleitorado progressista do Rio não foram suficientes para que Gabeira superasse a união da máquina estadual com a federal. “O Sérgio Cabral mobilizou os vereadores eleitos na campanha do Paes e pôs a máquina para funcionar a favor dele”, opina Fleischer. Para ele, o governador do Rio “tirou” votos de Paes ao antecipar o feriado do dia do servidor público desta segunda-feira (27) para sexta-feira (24). No primeiro turno, a abstenção no Rio foi de 14% e, no segundo, de 20%. A saída de eleitores se concentrou no público de Gabeira, na opinião de Fleisher. “Isso tirou a vitória do Gabeira. Se o TSE [Tribunal Superior Eleitoral] fosse mais esperto, não teria deixado isso acontecer”. (Congresso em Foco)

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