quinta-feira, outubro 29, 2009

Tragédias ajudam a imprensa - Por Luciana Melo Ramalho


Tragédias não faltam no dia-a-dia das pessoas aqui no Brasil, a cada dia,cada esquina, e a cada noite o que mais se vê é a intolerância e a violência, sobretudo dentro das famílias brasileiras e nos grandes centros urbanos.

O brasileiro está ficando anestesiado com o sofrimento alheio, é tanto desespero dentro dos hospitais, dentro das favelas e dos lares, que já não é motivo de indignação o assassinato de uma criança ,de um casal de idosos ou mesmo de uma jovem e promissora atriz por exemplo, são tantas tragédias todos os dias que o tema já não é de interesse para os repórteres, mas um caso chocou a opinião pública no último ano .

O caso Isabella Nardoni,não saiu dos noticiários por meses a fio e agora mais de um ano depois o caso volta as manchetes dos jornais e aos noticiários de TV.Até parece que ninguém mais morreu ou que nenhuma outra criança sofreu abusos, torturas ou mesmo foi vítima de violência doméstica, a pauta principal da imprensa tem sido a cobertura exaustiva, dramática e em muitos casos e canais, até patética. O sensacionalismo e a corrida pela audiência fazem com que o bom jornalismo seja negligenciado em nome do ”achismo” de cada apresentador.

É lamentável que este caso em especial tenha causado tanta comoção hipócrita quando  se sabe  que milhares de crianças e bebês são assassinados nos bairros mais pobres das grandes cidades , nas barrigas de suas mães, ou mesmo por falta de atendimento nos pronto-socorros.

O que este caso tem de tão espetacular? Nada! A maldade humana é uma só, mas o que transforma uma tragédia familiar em notícia de tanto interesse popular? O ineditismo? A utilidade pública?Não! O motivo do súbito interesse é o simples fato do crime ter sido cometido, ou melhor, supostamente cometido por pessoas da classe média paulistana e também porque a imprensa brasileira passa por um período de ‘limbo’ nas redações. A imprensa por falta de criatividade e de competência transformou este caso em manchete nacional e explora o tema de forma distorcida dos manuais da ética jornalística.

Na disputa pela audiência vale tudo para ficar em primeiro lugar no ibope ou no Datafolha; é triste, pequeno e mesquinho o que se vê na cobertura da imprensa brasileira, onde está a grande mídia nos infanticídios lá do Acre, milhares de crianças são assassinadas nas aldeias indígenas diariamente e ninguém sabe disso, a população brasileira não tem conhecimento desses crimes bárbaros, mas a imprensa tem. Cadê os grandes repórteres lá no meio da selva fazendo a mesma cobertura dramática e exaustiva? Onde está a tão competente imprensa na cobertura da dramática situação das mulheres escalpeladas do Rio Amazonas? Será que estas pessoas também não merecem ter mais visibilidade em suas tragédias? Será que este Brasil tão rico em tragédias humanas não merece ser mais visto e mostrado? É preciso que a imprensa repense o seu papel enquanto formadora da opinião pública.

 Estamos formando uma geração de alienados, de pessoas bobas que só usam e falam o que a mídia corporativa induz diariamente nos seus resumidos telejornais. É melancólico ver a falta de propriedade das opiniões, a superficialidade das relações.Qual é a saída? Por onde começar o movimento de conscientização?De maior participação das pessoas para nos transformarmos em uma nação e não apenas em um país de terceiro mundo, onde cada um só quer tirar proveito pessoal,onde quem vence é o mais esperto.Muitas pessoas sequer sabem a diferença do que é moral e do que é ética.Não sei se esta é a melhor resposta, mas entendo que tudo que queremos transformar deve começar por nós mesmos.Comece por você! Comece a ver o mundo com mais critério, com mais respeito a si mesmo, aos outros, aos animais, ao meio ambiente, ao seu país!Ah!Esta senhora da foto é a Maria Trindade Gomes que  eu conheci lá no Congresso Nacional quando ela me procurou para fazer uma denúncia sobre o escalpelamento das mulheres no Rio Amazonas.

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