segunda-feira, novembro 02, 2009
Berlim, duas décadas depois do Muro
No dia 9 de novembro comemoram-se 20 anos da queda do Muro de Berlim. As exposições alusivas ao episódio da história contemporânea mundial já começaram e revelam, na verdade, a divisão que imperou em Berlim de 1945 a 1990. Na mídia, a contagem regressiva suscita debates e polêmicas. O povo alemão assiste a tudo, atento.
O Memorial do Muro de Berlim nunca foi tão visitado, segundo Tim Starke, do departamento de turismo berlinense. As fotos são a senhora da razão. O amplo acervo data de 1961, quando em plena construção do Muro as pessoas pulavam para o lado ocidental, em busca de liberdade.
Os 155 quilômetros de barreira entre Leste (soviético) e Oeste (americano, inglês e francês) mancharam com tintas cruéis a história recente mundial. Deixaram um corredor fúnebre: a “Faixa da Morte”, identificada com placas no chão.
As exposições, a maioria delas em praça pública, mergulham no resgate dos fatos e mostram que até mesmo no lado ocidental havia problemas. Muitos. Os três setores – inglês, americano e francês - mantinham barreiras de entrada. Trafegar de carro entre eles era quase impossível.
O Check Point by Charles, por exemplo, ficou imortalizado e até hoje recebe turistas, que posam para fotos com soldados americano e inglês (a foto custa 1 euro), cada qual com sua bandeira. Imaginem que muitos utilizavam avião para poder trocar de setor naquela época de tanta subdivisão do território alemão.
O musical “QI”, apresentado de terça a domingo no Friedrichstadt Palast, o melhor e maior teatro da cidade, é o grande acontecimento do show business berlinense. Com capacidade para 1.200 pessoas, o local fica praticamente lotado todas as noites. A estrutura do evento, que está em cartaz há um ano e meio, é grandiosa. São 250 pessoas envolvidas, das quais cerca de 100 artistas. Os ingressos custam de 20 a 100 euros.
O espetáculo é interessante. Não se deve compará-lo, porém, aos melhores musicais da Broadway nem aos mais concorridos shows de Las Vegas ou Londres. O QI é um mix de músicas americanas com coreografias apenas razoáveis, a cargo de bailarinos alemães. Tem bons trapezistas e um excelente malabarista. Mas o melhor de tudo é a empatia que gera com o público, que aplaude de pé o musical. No metrô e nos ônibus, a propaganda do espetáculo é constante. Virou orgulho dos berlinenses.
Antes ou depois do show, que começa pontualmente às 19h30, uma dica é jantar no restaurante panorâmico giratório de Berlim, em plena torre de TV, na Alexanderplatz. A cada 30 minutos, cumpre-se a rotação de 360 graus, com direito a vários e diferentes ângulos da cidade, tanto a Leste quanto a Oeste. O restaurante, construído há 40 anos para mostrar a “superioridade” do lado ocidental frente à ocupação soviética, fica a uma altura de 204 metros. O elevador leva 38 segundos para chegar até lá.
Gastro Ralye - O programa cult em Berlim é fazer um Gastro Ralye. Trata-se de uma visita guiada a um antigo bairro do Leste, tipo Old Berlim. O programa consiste num aperitivo bem germânico em bar de calçada, jantar em restaurante com cozinha internacional (geralmente italiano) e sobremesa num bistrô. Boas opções não faltam.
A atmosfera por lá é totalmente diferente do reto da cidade. É o lado oriental preservado, com bondes e clima despojado, num contraponto ao ar sombrio da época do Muro. O casario antigo foi conservado. E a vida noturna, numa comparação com São Paulo, se assemelha à da Vila Madalena.
Mas nem só de gastronomia vive essa Old Berlim. O bairro abriga artistas, escritores, músicos e boêmios em geral. Alguns bares só fecham quando o sol bate à porta. E há clubes e lounges onde dançar faz parte da cena. Imaginem que tem até casa de tango, onde se pratica algo parecido com a famosa dança de salão latina. Para fazer um Gastro Ralye (desfrutar da gastronomia) é necessário fazer reserva no departamento de Turismo de Berlim. Há vários postos de atendimento. Alguns deles: Portão de Brandeburgo e Alexanderplatz.
East Side
Difícil desfrutar de toda a cultura que Berlim oferece. Mas alguns locais são visita obrigatória, como o moderno e badalado East Side Galery, um paredão com 1,3 quilômetro de pinturas alusivas ao Muro. Dos traços infantis ao mais hermético futurismo, encontra-se de tudo por trás dos pincéis e da imaginação de pintores anônimos que imaginaram o Muro com ângulos bem peculiares.
Berlim está em obras permanentemente e esse é outro aspecto que o turista menos avisado observará. Para uma melhor compreensão histórica e política, vale a pena lembrar que a capital alemã é, na verdade, uma cidade-estado, com funções políticas federais. Seus 12 bairros (já foram 23) têm prefeito e parlamento próprios. A política, como se vê, é distrital.
Um dos problemas que vem ocorrendo com frequência, nos últimos dois anos, diz respeito á abertura de terrenos próximos ao antigo Muro para o capital estrangeiro. Berlim quer trazer grandes conglomerados mundiais, a exemplo da Sony e da Universal Studios, que já estão por lá. Mas a população resiste. Quer que as áreas próximas ao Muro fiquem resguardadas, longe do capital e da especulação.
Mais um detalhe: Berlim já teve quatro milhões de habitantes nos anos 20. Hoje tem 3,4 milhões. A população, em geral, acha o número ideal. Teme um inchaço, o que roubaria qualidade de vida e poderia tirar uma identidade que resistiu a duras penas ao longo dos últimos 70 anos. Berlim ainda é uma torre-de-babel, com ares multirraciais que vão das ciclovias às grandes avenidas. Mas, pelo menos nos dias de hoje, a convivência pacífica dos povos virou grife da cidade.
“Mais museus do que dias chuvosos”
Responsável pela promoção do Turismo de Berlim para o Sul da Europa e América Latina, Tim Starke disse que o marketing de Berlim tem sido direto e criativo: “Mais museus do que dias chuvosos”. Ele comenta que a frase de efeito vem trazendo retorno, pois cresce bastante o número de turistas que visitam Berlim em busca de cultura e história.
O representante do Turismo da cidade abordou vários ângulos de Berlim, cuja topografia reserva 30% de parques e 300 lagos, além de 770 quilômetros de ciclovias e 200 quilômetros navegáveis no Rio Spree.
Com 11 restaurantes no hermético e disputado Guia Michelin, Berlim mostra que comer bem é outro item em evidência atualmente. Já em relação à hotelaria, Tim Starke salientou que há cerca de 100 mil leitos na capital alemã. E lembrou que estão em construção oito hotéis de grande porte, o que elevará a capacidade da hoteleira, nos próximos dois anos, para quase 110 mil leitos.
Ainda de acordo com o representante do Turismo de Berlim, a própria Alemanha, que é forte no turismo interno, é o primeiro polo emissor de turistas para a cidade (60% do share), seguida pela Espanha e pela Itália. Na América Latina o Brasil detém a segunda posição no fluxo de turistas para Berlim, atrás apenas do México.
“O mexicano visita muito a Espanha e costuma prosseguir a viagem até Berlim. Já em relação o Brasil um dos problemas é a falta de voo direto”. Starke revelou ainda que a cidade recebeu 7,9 milhões de visitantes no ano passado. Ele ressalta, porém, que o número sobe para 140 milhões se for levado em consideração o turista bate-e-volta, que não dorme na cidade. (Antonio Roberto Rocha)
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