As recentes declarações do presidente Lula questionando o trabalho do Tribunal de Contas da União (TCU) fizeram ressurgir no Congresso o debate sobre as atribuições do órgão de fiscalização ligado ao poder Legislativo. Nesta terça-feira (10), o Senado realiza uma audiência pública para discutir a controvérsia sobre a paralisação de obras públicas pelo Tribunal. Um embate já se vislumbra: uma corrente no Congresso defende o fortalecimento ainda maior do TCU, enquanto outra parcela quer maior controle sobre a instituição.
Há 15 dias, Lula afirmou que o TCU “trava o país”, e sugeriu a criação de um órgão “tecnicamente inatacável”. O governo federal tem mostrado irritação pelo número de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) paralisadas por conta de irregularidades. Ontem (9), o jornal Folha de S. Paulo revelou que o governo possui já um anteprojeto, em fase de consulta pública, proibindo o tribunal de embargar obras. Ainda existe a possibilidade de criação de um conselho para fiscalizar o TCU.
Dos dois lados da briga, nasce um tripé que sustenta atualmente a discussão sobre mudanças nos tribunais de contas. A minuta elaborada pelo governo federal trata da atuação da corte, de modificações na lei orgânica da instituição. Pode ser mudada pelo Congresso por um projeto de lei simples. “Essa discussão, que pode ser resolvida por lei, é prioritária no momento”, afirmou o deputado Flávio Dino (PCdoB-MA), que relatou na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 75/07, que pretende diminuir a politização das cortes de contas.De acordo com alguns parlamentares
o momento é propício para discutir o tema. A avaliação geral é que os tribunais de contas deveriam ter uma atuação “preventiva e consensual”. O problema na atual atribuição do TCU, por exemplo, é ter um modelo jurisdicional repressivo. Ou seja, a primeira ação a ser feita, após a descoberta de possíveis irregularidades, é parar a obra e dar uma multa.
Burocracia
“O TCU tem um papel importante, e seu poder de fiscalização não pode sofrer questionamentos. Mas as decisões acabaram burocratizando e encarecendo as obras”, considera o senador Renato Casagrande (PSB-ES). Casagrande defendeu, na tarde de ontem, da tribuna do Senado, uma das duas PECs envolvendo o TCU, da qual é o autor. A PEC 30/07 cria o Conselho Nacional dos Tribunais de Contas e do Ministério Público junto aos Tribunais de Contas.
A matéria ainda está parada na CCJ do Senado, mas pode andar nas próximas semanas. O relator da PEC, Romero Jucá (PMDB-RR), apresentou à comissão seu relatório na última quarta-feira (4). Ele votou pela constitucionalidade da proposta e pela aprovação no mérito também. “No mérito, concordamos com os autores da proposta, quando afirmam a conveniência e, mesmo a necessidade de criação de um órgão superior de controle administrativo, financeiro e disciplinar dos tribunais de contas”, escreveu Jucá.
O peemedebista, porém, apresentou duas emendas ao texto original. Uma muda a composição do conselho imaginada por Casagrande e a outra modifica a Constituição para prever o colegiado. Com a nova redação, a PEC está pronta para ser votada na CCJ. Caso aprovada, segue para tramitação em uma comissão especial.
A outra PEC de Casagrande, a 15/07, está parada desde abril. Ela prevê que os membros do Tribunal de Contas da União passem a ser denominados ministros-auditores e tenham competências similares às dos integrantes do poder Judiciário. Além disso, a iniciativa coloca o concurso público como única forma de entrar na carreira, acabando com as indicações políticas.
“A iniciativa deve ser efusivamente elogiada. Cremos que já passa da hora de se dotar as Cortes de Contas de um perfil exclusivamente técnico, já que são constitucionalmente definidas como órgãos técnicos auxiliares do Poder Legislativo no trabalho de controle externo das contas públicas”, afirmou o relator da matéria, Pedro Simon (PMDB-RS). O autor da PEC, no entanto, acredita que não existe vontade de votá-la. “Há movimentação do TCU para tentar impedir a votação, pois os membros do tribunal não concordam com a forma da escolha por concurso”, disse.(Congresso em Foco)
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