O oeste da África corre o risco de se tornar o novo epicentro do tráfico de drogas, além de crimes associados a esse comércio ilegal e corrupção, avisou a diretora executiva do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), Maria Costa.
Do total da cocaína que chega às ruas na Europa, 40% entra pelo oeste da África. Os perigos que a nova rota africana coloca estão na pauta do Conselho de Segurança da ONU.
As rotas da cocaína
Três países concentram a maior parte do cultivo mundial de cocaína: Colômbia, Peru e Bolívia. De acordo com o Relatório sobre Drogas no Mundo de 2009, da UNODC, em 2008 a Colômbia detinha 51% da produção da droga, o Peru, 36%, e a Bolívia, 13%.
Os principais mercados para a cocaína são os Estados Unidos e a Europa. O Departamento Nacional Antinarcóticos da Polícia da Colômbia confirmou que 50% dessa droga com produção na região andina destina-se para a Europa e 40% para os EUA.
Informações que a agência policial pan-europeia Europol reuniu para a UNODC em 2008 indicam que, tradicionalmente, os traficantes usavam duas rotas para a Europa: uma pelo norte (América do Sul-Caribe-Açores-Portugal-Espanha) e outra pelo centro (América do Sul-Cabo Verde/Madeira-Ilhas Canárias-Europa).
O Departamento Nacional Antinarcóticos da Colômbia explicou , que a cocaína que segue para a Europa por essas rotas corre maior risco de apreensão por alfândegas e autoridades antinarcóticos nacionais.
Uma fonte da UNODC cuja identidade não será revelada por razões de segurança confirmou à reportagem que, só em 2003, mais de 16 embarcações com drogas com destino à Europa foram apreendidas na rota central convencional, ou seja, América do sul-Cabo Verde-Ilhas Canárias-Europa, em operações de interceptação no mar promovidas por autoridades de fronteira. O sucesso dessas iniciativas foi um dos principais fatores que levaram as organizações criminosas sul-americanas a buscar caminhos alternativos.
A nova rota: o oeste da África
Para evitar os problemas que estavam enfrentando nas rotas tradicionais, os traficantes sul-americanos precisavam utilizar países caracterizados pela violência e pela instabilidade política, com forças de segurança sem muita experiência em lidar com o tráfico de drogas. Em 2008, a Europol informou à UNODC que isso deu origem a uma nova rota na qual a cocaína, a partir do oeste da África, segue para Portugal e Espanha.
“Em consequência do aumento do controle em outras regiões, o oeste da África transformou-se em corredor de trânsito entre a América Latina, em particular a Colômbia, e a Europa, sobretudo para o tráfico de cocaína”, afirmou o professor Philippe Hugon, especializado em assuntos africanos e desenvolvimento internacional do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas – IRIS, na sigla em francês, de Paris. “[No oeste da África], as fronteiras não são devidamente controladas e, à parte a recente interceptação de alguns aviões no Mali, uma revista nas fronteiras não é muito provável”, diz o especialista. Segundo Hugon, operam nesses países redes com especialização em outros tipos de tráfico ilegal, como o de armas ou diamantes, e os governos centrais, em geral fracos, não contam com recursos para monitorar seu território.
Da América do Sul para o oeste africano
De acordo com o Departamento Nacional Antinarcóticos da Colômbia, outro fator determinante para a criação da nova rota africana é a falta de monitoramento eficaz da extensa fronteira entre a Colômbia e a Venezuela, grande parte dela em áreas remotas. Isso permite que a cocaína transite com facilidade da Colômbia para a Venezuela, onde, em vez de seguir diretamente para a Europa, é enviada para o oeste da África por via marítima ou aérea.
O que torna a rota viável para os traficantes é a fragilidade dos controles aeroportuários nos voos com destino ao oeste da África, um problema que já levou o governo colombiano a reclamar com a Venezuela.
A situação é mais complicada no transporte marítimo, porque as embarcações deixam o porto com a aprovação dos oficiais da alfândega venezuelanos sem cocaína a bordo. Então, recebem a carga no mar, entregue por pequenos barcos rápidos. Da mesma forma, a cocaína é transferida para pequenas embarcações antes de chegar à África.
Os países afetados
De acordo com o Departamento Nacional Antinarcóticos colombiano, Mauritânia, Senegal, Gâmbia, Guiné, Guiné-Bissau, Serra Leoa, Libéria, Costa-do-Marfim, Mali, Burkina Faso, Gana, Togo, Benin e Nigéria são os países que compõem o corredor de trânsito e entreposto de drogas no oeste africano.
“No momento, um dos países mais relevantes para o trânsito é a Guiné-Bissau, que se transformou em um narco-estado no qual o Exército e pessoas próximas do governo têm envolvimento com o tráfico”, confirma Hugon. A ex-colônia portuguesa, comenta, hoje é amplamente financiada pelas drogas e lucra com elas. “Alguns analistas têm se referido ao fenômeno como 'criminalização do Estado', mas países nos quais os governos não estão envolvidos também servem de corredor, como Gana, Senegal e Mauritânia”, acrescenta Hugon.
Do oeste da África para a Europa
Segundo o Departamento Nacional Antinarcóticos da Colômbia, "mulas" humanas são usadas para transportar cocaína do oeste africano para a Europa em voos comerciais, em troca de pagamento em dinheiro ou de uma parte da droga.
Conforme informações do UNODC, os maiores grupos de usuários de cocaína da Europa estão na Espanha e no Reino Unido. Os dois países também são os que mais detêm "mulas". Mas o suprimento para os mercados italiano, belga e holandês também usa a rota.
A Espanha é o principal destino e centro de distribuição. Lá, muitas vezes a droga é distribuída por africanos que vivem no país.
O UNODC também revela que, com frequência crescente, organizações criminosas da Grã-Bretanha, Itália, França e do Leste Europeu tendem a receber embarques de cocaína que, do oeste da África, seguem diretamente para seus países.
Vínculos terroristas
Relatórios do Departamento Nacional Antinarcóticos informam que representantes de um dos principais produtores de cocaína colombianos, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), tem presença no oeste da África, presumivelmente com o objetivo de facilitar o tráfico de entorpecentes para a Europa e levantar fundos para financiar suas atividades terroristas.
Operações coordenadas
Não se sabe quanto a nova rota africana vai durar.
“Uma nova rota aparece sempre que as polícias descobrem alguma já em uso. Os traficantes fazem levantamentos diários para pesquisar novas rotas e têm pessoal de contato em pontos estratégicos para eles”, afirmou uma fonte do escritório central do Departamento Nacional de Narcóticos da Colômbia cuja identidade será mantida em sigilo por motivo de segurança.
Para acelerar a descoberta dos novos caminhos do tráfico, a Colômbia e os países do Oeste da África, com o apoio da UNODC, estão desenvolvendo uma plataforma com informações em tempo real. O sistema garantirá a coordenação de estratégias antidrogas. Afinal, o sucesso no combate ao tráfico de entorpecentes vai depender desse intercâmbio livre e franco de informações.(Com informações do Infosur)
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