quinta-feira, janeiro 28, 2010

New York Times se rende aos blogueiros

Por ROBERT WRIGHT, no New York Times

Na semana passada a estreia de minha coluna online no New York Times (ou seja, esta coluna) aconteceu no mesmo dia em que o jornal anunciou seu plano para cobrar por conteúdo online. Coincidência?
Infelizmente, sim. Adoraria pensar que o Times estava usando minha prosa como um exemplo de algo pelo qual valesse a pena pagar, mas temo que não foi isso.
Bem, se não sou a chave para o futuro deste jornal, talvez eu possa pelo menos contribuir com meus dois centavos sobre aquele futuro. Aqui vai.
 






Minha primeira reação ao anúncio do Times foi: "Dava para prever. Assim que eu apareço eles decidem construir uma parede maciça que vai me relegar à obscuridade como resultado do fim do atual domínio do Times em sua categoria de conteúdo".


Minha segunda reação (depois de ler as letras minúsculas) foi: "Ainda bem, pelo menos eles vão esperar um ano antes de cometer um erro estratégico. Se bem que o George Bush esperou dois anos, mas a guerra do Iraque ainda foi a guerra do Iraque".

Minha terceira reação (depois de ler mais detalhes) foi: "Na verdade, pode funcionar, já que não se trata propriamente de uma parede. Mesmo assim, acho que precisa de uma mudança significativa".
O desafio básico enfrentado pelo jornal é simples: Colher renda de pessoas como eu, que lêem dezenas de artigos do Times por mês e que pagariam pelo privilégio, ainda assim mantendo leitores menos comprometidos. Dois grupos de leitores não comprometidos, particularmente: pessoas que vem à edição online através dos buscadores e pessoas que chegam até aqui através de links em blogs e outros sites da internet.
O primeiro grupo -- os buscadores -- é presumivelmente maior, mas o segundo grupo é crucial; se os melhores blogueiros deixarem de linkar conteúdo do Times porque os links levam a uma parede [pedagiada], então a atual propaganda do Times -- "Onde as conversas começam" -- deve ser mudada para "Onde as conversas terminam". Mas o fato é que o Times está construindo uma parede porosa de duas maneiras. Primeiro, através de um sistema de medição. Todo mundo tem algumas compensações: você pode vir ao site e ler um artigo de graça por seis, oito ou dez vezes por mês, mas assim que você excede o limite você terá que assinar ou será banido para a ilha vazia que é a parte da internet que não é do New York Times.
Se essa fosse a única porosidade, os blogueiros ainda poderiam temer que seus links levassem seus leitores a uma colisão de cabeça com uma parede de pagamento. Mas não será assim, como a seção de perguntas e respostas sobre o novo modelo explicou: "Se você está vindo ao NYTimes.com de outro site da internet e veio até aqui ler um artigo citado, você terá acesso àquele artigo e o acesso não vai contar para a sua cota de acessos gratuitos".

O que remove a preocupação de blogueiros em colocar links para conteúdo pago.

Mas, a longo prazo, pelo menos, essa solução é problemática. A tendência é de que mais pessoas vão ler mais coisas por indicação de outras; elas não começarão o dia buscando as home pages dos grandes jornais e revistas mas em geral seguirão as indicações de seus blogueiros -- ou, crescentemente, de tuiteiros que seguem ou de amigos (ou pelo menos "amigos") do Facebook.

Se a tendência continuar, você poderia ter alguns milhares de blogueiros e de outros formadores de opinião pagando ao Times para ajudá-los a começar a conversa, enquanto todos os demais -- os zilhões de pessoas que se juntam à conversa downstream -- participariam de graça. Assim, o futuro desse modelo não parece brilhante.

Por outro lado, o futuro ainda não chegou. Por enquanto, há muita gente que, como eu, começa o dia passando pela home do NY Times e de alguns outros sites comparáveis. Podemos ser mais velhos do que a turma que chega do Facebook, mas, epa, não estamos mortos ainda! E extrair dinheiro de gente velha é um modelo de negócio que se provou surpreendentemente duradouro. Os telejornais noturnos estão para acabar faz tempo -- já não conheço ninguém da minha idade que os assista -- mas enquanto isso estão fazendo uma grana decente, embora em queda, vendendo Cialis.

E o Times, ao contrário das redes de TV, neste cenário continuaria próximo de um grupo de leitores mais jovens -- as pessoas que chegam através dos blogs, do Facebook ou de um tweet -- de forma que, se surgir uma forma de extrair dinheiro deles, poderia mudar o modelo. Você poderia dizer que o Times está "ganhando tempo", o que é melhor que o fim dos tempos.

O que acontece quando você não dispõe nem mesmo do tempo comprado [dos leitores]? Há dois caminhos para a salvação.

O primeiro é "micropagamentos" -- pagamento de 5 centavos, 10 centavos ou 25 centavos por artigo. Os micropagamentos faz tempo são desprezados pelos visionários da nova mídia como Clay Shirky, mas eu pessoalmente penso que as perspectivas de curto prazo são suficientemente boas para que eles mereçam o que não tem nesse momento: um lugar no modelo do Times.

A posição de Shirky contra os micropagamentos se sustenta largamente no fato de que eles demandam "custos de transação mental", ou seja, "a energia exigida para decidir se vale a pena ou não comprar, independentemente do preço".

Mas, se isso em si fosse mortal, a história humana não teria nenhum comércio, já que todas as transações requerem essa energia inicial. Mas Shirky sustenta a sua teoria com provas: os micropagamentos nunca funcionaram.


Sim, isso é verdade. No entanto, ninguém nunca inventou um sistema de micropagamento tão simples que o custo daquela "transação mental" fosse a única fonte de desgaste. Pela minha experiência, não se trata de uma questão de decidir pagar 10 centavos com o click de um mouse. Em geral você tem que colocar as informações de um cartão de crédito, se inscrever em alguma companhia com um serviço chamado CyberDigiCash ou descobrir a senha de uma conta do PayPal (conta que você provavelmente nem tem).

Minha pergunta é: Por que a Amazon não adapta o seu sistema de "encomenda com um click" para uso como um sistema de micropagamentos de toda a rede? Uma vez que você está inscrito neste sistema -- muitos leitores do Times estão -- a Amazon claramente tem a capacidade de ler os cookies de seu browser e fazer o serviço a partir deles. E quanto ao sistema do iTunes -- outro site onde muitos leitores do Times já deixaram suas informações de cartão de crédito? Presumivelmente tanto a Amazon quanto a Apple amariam emitir micro-moedas globais e não se importariam de usar o Times para fazer propaganda de seu papel.

Assim sendo, já que falamos de micropagamentos, seguem meus dois centavos:


(1) Quando leitores "pedagiados" esgotarem os seus créditos, eles deveriam ver na tela os dois primeiros parágrafos do artigo e três botões: a) assine o Times e veja este e todos os outros artigos no site do Times; b) leia apenas este artigo pagando 10 ou 25 centavos através de sua conta na Amazon; c) o mesmo via sua contra no iTunes.

(2) Se em cinco anos virturalmente todo o tráfego do Times vier através de links de terceiro, o jornal deveria dar a esses leitores duas opções: assinem o Times ou façam micropagamentos.
Na verdade, o segundo passo pode nem ser necessário. Há razões para acreditar que dentro de alguns anos a tecnologia permitirá que a renda da propaganda online seja muito maior para os jornais e outros endereços da internet. Mas vou deixar esse tema -- o do segundo caminho para a salvação de longo prazo -- para outra hora.

Nenhum comentário:

Postar um comentário