sábado, agosto 07, 2010

Estrela de debate, socialista Plínio é faz-tudo na própria campanha

Esqueça os jatinhos que cruzam o Brasil em campanha pela sucessão presidencial. Nada de marqueteiros milionários para passar roteiros, sugerir agenda ou melhoras no visual. Tampouco há encontros com lideranças empresariais – chaves para financiar presidenciáveis. A candidatura de Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) ao Palácio do Planalto é quase amadora. Seus aliados chamam de espontânea.

No dia seguinte ao debate na TV Bandeirantes, durante o qual ofuscou Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV), Plínio seguiu nesta sexta-feira (6) para o centro de São Paulo. O candidato octogenário passou cerca de uma hora distribuindo panfletos e conversando com potenciais eleitores. Em seguida, isolou-se para gravar programas de rádio e televisão.

Um dos coordenadores da campanha de Plínio, o deputado Ivan Valente (PSOL-SP), disse ao UOL Eleições que o partido socialista depende quase exclusivamente da militância para fazer a campanha à Presidência. A legenda, que surgiu de um racha com o PT, abriu mão de financiamento privado para seus candidatos. Ele ocupou a mesma posição em 2006, quando Heloísa Helena concorreu ao Palácio do Planalto.

“O candidato muitas vezes é obrigado a tratar da própria agenda, discutir os materiais, dirigir o carro até as assembléias, aos movimentos sociais e às agendas”, disse Valente sobre Plínio. “Desde motorista até formulador de programa, desde panfletador até verificador de agenda, o candidato socialista do PSOL tem de fazer tudo se quiser chegar lá”. Por conta disso, a campanha tem se concentrado em São Paulo, cidade onde o candidato vive.



Para o debate de quinta-feira, Plínio foi o único dos concorrentes que precisou de carona do helicóptero da TV Bandeirantes para chegar aos estúdios da emissora. Marina Silva usou o de seu candidato a vice, o executivo Guilherme Leal, bilionário fundador da Natura. Dilma e Serra se beneficiaram de estruturas já prontas para esse tipo de deslocamento.

Membros da campanha do PSOL dizem que a arrecadação do partido está na faixa de R$ 100 mil. De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, Dilma informou ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que já conseguiu R$ 11,6 milhões até o início de agosto. Marina, com a ajuda do vice, amealhou R$ 4,6 milhões, enquanto Serra ficou com R$ 3,7 milhões, sempre segundo o diário.

De acordo com a mais recente pesquisa do instituto Datafolha, Dilma e Serra estão tecnicamente empatados. Outros institutos, que divulgaram números mais recentes, colocam a petista à frente do tucano, sempre com Marina em uma terceira e distante posição. Plínio, na maioria das sondagens, mal chega a 1% das intenções de voto. Um cenário que Valente espera mudar após o debate.


O ex-promotor público atraiu atenção no debate com críticas a todos os candidatos, permeadas de ironias e adjetivos que arrancaram sorrisos até dos adversários. Chamou Serra de hipocondríaco e Marina de conciliadora. Ainda classificou políticas de Dilma e Serra de "quinquilharia". O candidato do PSOL fez uma de suas críticas mais diretas à presidenciável do PV.

"Você não sabe pedir demissão. Você devia ter pedido demissão", afirmou Plínio, em relação às tensões entre o Ministério do Meio Ambiente comandado por Marina com outros setores do governo. A senadora deixou a legenda onde começou sua militância para ser candidata à Presidência pelo PV. "Estou ouvindo você aqui e nem parece que você saiu do PT." Dilma era a principal rival de Marina em Brasília.

A atuação levou o nome do socialista, durante o debate, à posição número um dos trending topics do microblog Twitter. Para Valente, Plínio se esforçou para mostrar que o PSOL é uma alternativa de esquerda mais clara do que Marina. “Uma candidatura que poderia ser alternativa, que é a da Marina, não se coloca como alternativa. A candidatura do Plínio vem ocupar esse espaço de alternativa.”


“A candidatura Dilma trepidou, se arrastou, travou. O Serra foi extremamente burocrático, morno. Não tem o que propor contra o governo Lula. E a candidatura Marina não se coloca como de esquerda ou de direita, nem de oposição nem de situação”, criticou Valente.

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