O novo presidente brasileiro, que vai assumir o poder no dia 1º de janeiro de 2011, encontrará uma fase atípica nas relações entre Brasil e Europa.
O Brasil atravessa um momento de otimismo nas relações internacionais, com boas perspectivas de crescimento econômico e desenvolvimento. Já a Europa se recupera com grandes dificuldades do forte impacto da crise econômica global, enquanto enfrenta problemas no seu processo interno de integração, no âmbito da União Europeia.Para diferentes analistas e diplomatas ouvidos pela BBC Brasil, os momentos distintos vividos por Brasil e Europa apresentam riscos e oportunidades para os brasileiros nas relações entre os dois lados.
Por um lado, o novo governo pode se aproveitar do aumento do interesse do interesse europeu nas relações com o Brasil para ampliar seus interesses econômicos e políticos na região.
Já para alguns analistas, o fato de a Europa estar passando por uma crise pode dificultar o avanço em negociações – como no comércio, por exemplo – já que os governos europeus estariam mais enfraquecidos internamente, precisando agradar a grupos que fazem lobby por maior protecionismo.
Renascimento brasileiro
O Brasil passa por uma espécie de "renascimento" na Europa, que é consequência da ascensão dos países emergentes na economia global, de acordo com alguns dos analistas. Entre os emergentes, o Brasil recebe mais investimentos diretos europeus do que a China e a Índia somadas.
"O mundo está passando por mudanças muito significativas. E o traço mais característico é a relevância acentuadamente maior dos países em desenvolvimento, que é de onde vem hoje a maior parte da riqueza adicional no mundo", afirma o embaixador brasileiro em Londres, Roberto Jaguaribe.
Jaguaribe passou os últimos anos em Brasília, onde trabalhou no setor do Itamaraty responsável pelas relações com o mundo emergente. No mês passado, ele assumiu a embaixada brasileira na Grã-Bretanha, que, segundo ele, é um dos países europeus mais atentos para a mudança de status do Brasil no cenário internacional.
"A América Latina e o Brasil foram os espaços geográficos mais esquecidos da política externa do Reino Unido dos últimos 50 anos", afirma Jaguaribe. "Agora se vê um renascimento de interesse aqui – pela América Latina, em geral, e pelo Brasil, em particular."
Em julho, o ministro britânico das Relações Exteriores, William Hague, incluiu o Brasil entre as prioridades do novo governo do primeiro-ministro David Cameron.
"Agora o Brasil virou moda na Europa. Antes todos olhavam muito para a China e para a Índia, agora todos falam no Brasil. Vamos ver se essa 'moda Brasil' vai durar", diz Alfredo Valladão, presidente do conselho consultivo da EUBrasil, entidade que promove a aproximação entre Brasil e União Europeia.
Interesses do Brasil
Nos últimos anos, o Brasil não conseguiu ampliar as condições de comércio com a União Europeia, depois que as tentativas de se firmar um acordo comercial do bloco europeu com o Mercosul fracassaram, por falta de concessões dos dois lados.
No entanto, os analistas apontam que mesmo com o fracasso no acordo comercial, o Brasil ampliou seus interesses na Europa em outras esferas, sobretudo no campo da governança global.
O país foi chamado como convidado para todas as reuniões do G8 – grupo dos países ricos do mundo mais a Rússia, integrado por quatro potências europeias (Grã-Bretanha, França, Itália e Alemanha). Após a crise econômica mundial de 2008, o G8 foi gradualmente perdendo destaque em relação ao G20 – que inclui o Brasil.
Para a professora da UERJ Miriam Saraiva, especialista em relações Brasil e Europa, os países europeus têm um papel importante no esforço de ascensão internacional do Brasil.
"Durante o governo Lula, o Brasil buscou uma aproximação com países europeus para tentar influir sobre a ordem internacional. Nesse esforço, os países europeus têm um lugar de destaque para puxar o Brasil para as negociações mais importantes", afirma Saraiva.
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