A presidente eleita, Dilma Rousseff, assumirá o governo com ampla maioria no Congresso, mas ainda assim terá que enfrentar um processo de negociação inclusive com seus próprios aliados, segundo cientistas políticos.
Na Câmara, a coligação pró-Dilma elegeu cerca de 311 deputados, o que representa 60% da Casa. A proporção permite, inclusive, aprovar mudanças na Constituição. No Senado, os aliados da nova presidente conquistaram 58 cadeiras – 70% do total.
A avaliação é de que a base aliada, envolvendo dez partidos, é "bastante heterogênea", o que poderá suscitar "diferentes demandas", mesmo entre os mais próximos do novo governo.
"A negociação para acomodar os interesses de dez partidos não será fácil. Vamos ter um período de conflito por aí, inclusive com fogo amigo", diz Carlos Melo, cientista político do Insper.
O professor cita, como exemplo, o PMDB, partido do vice-presidente Michel Temer e principal aliado do PT no novo governo.
"O PT pode ter a maior bancada, mas o PMDB não vai dar tudo de mão beijada", diz.
"Mesmo saindo com maioria das urnas, o presidente precisa estar sempre negociando, apartando interesses. Inclusive com sua própria coligação", diz Melo. "FHC, Lula, todos tiveram que compor o governo dessa forma", acrescenta.
O primeiro grande teste para o governo Dilma será já em fevereiro, quando os presidentes das duas Casas serão eleitos. Representantes de PT e PMDB já articulam nos bastidores suas candidaturas.
Pelos dados do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) e considerando a avaliação de cientistas políticos, nem Fernando Henrique Cardoso, nem Luiz Inácio Lula da Silva encontraram um Congresso tão favorável.
Nas eleições de 1994, por exemplo, os brasileiros elegeram 34 senadores da base de apoio a Fernando Henrique, número que aumentou para 41 senadores em sua reeleição, em 1998.
Já a coligação de apoio ao presidente Lula elegeu 31 senadores em 2002, praticamente o mesmo número registrado na eleição de 2006.
Na prática, não é possível garantir que um parlamentar da base governista votará sempre a favor do Executivo, assim como também pode haver dissidentes entre a oposição.
Mas analistas concordam que o número que sai das urnas funciona como um "indicador significativo" do tamanho do apoio que o novo presidente terá nos próximos anos.
"Não há dúvida que quanto maior o apoio parlamentar que sai das urnas, maior a legitimidade do presidente eleito para discutir suas propostas", diz o cientista político da Uerj Fabiano Santos.
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