Uma análise publicada nesta quarta-feira pelo jornal francês Le Monde afirma que as desigualdades no sistema educacional são o "calcanhar de Aquiles do Brasil".
"Elogiado por seus inúmeros progressos nos campos econômico e social, o Brasil permanece estagnado em uma área crucial: a educação", diz o texto.
A análise nota que o país conseguiu "praticamente vencer" o analfabetismo entre os mais jovens, mas "continua a castigar um em cada dez brasileiros de 15 a 17 anos". "Na prática, a escolarização não é universal."
Para o jornal francês, "o marasmo brasileiro é resultado em parte da democratização do ensino promovida nos anos 1990. O afluxo de milhões de novas crianças levou a uma queda no nível de ensino, acentuada pela rejeição a expulsar os piores estudantes de das escolas".
"A mediocridade do ensino público está no centro do problema", diz o texto, segundo o qual "os professores são mal formados e mal pagos". "Muitos têm pouca bagagem escolar e experiência", afirma o Monde.
Além disso, "a estrutura federal do Brasil – em três escalões – agrava esses fenômenos" ao criar mais burocracia e abrir espaço para a corrupção no setor.
"Assim se perpetua, com algumas exceções, um ensino de base em dois níveis: público, gratuito, muitas vezes em estado de calamidade, para as crianças das famílias pobres; privado, pago, de bom nível, para os filhos das famílias abastadas, mais bem preparados para o vestibular e gozar do terceiro ciclo e dos centros de pesquisa financiados com dinheiro público", descreve o vespertino francês.
O jornal avalia que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ensaiou algumas ações, "reais, embora tardias e insuficientes". Exemplo disso é o orçamento da saúde, que "tem crescido, mas permanece muito longe, em termos per capita, dos níveis do Chile ou a Argentina", lista o artigo.
"O Brasil tomou consciência do seu calcanhar de Aquiles diante de uma dupla urgência, econômica e social. De um lado, seu forte crescimento obriga à formação da mão-de-obra qualificada que lhe falta, sob pena de perder competitividade. De outro, uma classe média em plena ascensão reivindica seu direito ao conhecimento, chave de um futuro melhor", avalia o vespertino francês.
"Esta dupla necessidade deveria incitar a presidente eleita, Dilma Rousseff, a prolongar o ciclo virtuoso que mal começou a ser esboçado sob o governo de seu predecessor."
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