Com um ministério dominado por nomes fortes de seu partido, o PT, Dilma Rousseff dará início a seu mandato na Presidência ao lado de pessoas de extrema confiança, mas em um processo que também deixou insatisfação entre as siglas da base aliada.
A estratégia desagradou outros partidos da base aliada, sobretudo PMDB e PSB, que esperavam ter uma maior participação no primeiro escalão do novo governo.
Os petistas ficaram com 17 dos 37 ministérios no governo Dilma, resultando em 20 cadeiras para os outros nove partidos que apoiaram a candidatura da ex-ministra da Casa Civil.
É menos do que a cota reservada por Luiz Inácio Lula da Silva a sua coligação em 2002. Na época, os petistas ficaram com 16 dos 29 ministérios, enquanto as outras 13 cadeiras foram divididas por quatro legendas aliadas.
“A insatisfação não é aquela pontual, típica dessa fase de montagem do ministério. O descontentamento é generalizado, ou seja, afetou praticamente todos os partidos aliados, inclusive o PT”, diz o deputado federal Júlio Delgado (PSB-MG).
Menos espaço
Delgado lembra que tanto o PMDB quanto o PSB acabaram ficando sem representantes das respectivas bancadas parlamentares no novo ministério.
Além disso, diz o deputado, alguns setores do PT também ficaram de fora da partilha dos cargos no primeiro escalão – entre eles o do Nordeste.
“Esse clima de insatisfação pode se refletir depois, em uma votação, por exemplo. Na eleição da Câmara já existe uma forte possibilidade de disputa”, acrescenta.
O PMDB, principal partido aliado e sigla do vice-presidente, Michel Temer, começa o ano de 2011 com seis ministérios, o mesmo número de cadeiras do final do governo Lula. Mas na transição para o governo Dilma, o partido perdeu pastas de peso, como a da Saúde.
Já o PSB, legenda que mais cresceu na última eleição, saiu das negociações com duas pastas (Integração Nacional e Secretaria dos Portos), apesar da forte pressão por três ministérios.
A capacidade de negociação política tem sido apontada por especialistas como um dos principais desafios da nova presidente brasileira. Uma avaliação comum é de que Dilma Rousseff tem um perfil mais “técnico” e que, portanto, seria menos flexível nas negociações políticas.
Câmara
A eleição para a Presidência da Câmara dos Deputados, já no início dos trabalhos legislativos, em fevereiro, é vista como a primeira prova de fogo na relação entre o novo governo e o Congresso.
Do ponto de vista numérico, Dilma Rousseff encontrará um parlamento favorável: sua coligação conquistou cerca de 60% das cadeiras na Câmara e quase 70% no Senado.
A maioria absoluta, no entanto, não é garantia de um resultado positivo para o governo nas votações, o que exige um forte poder de negociação, inclusive com representantes da base aliada.
Em tese, o partido de maior bancada na Câmara – no caso, o PT – tem o direito de ocupar a Presidência da Casa. Mas na prática, como o voto é secreto, o resultado pode ser diferente.
Diante da insatisfação com a montagem dos ministérios, muitos deputados já falam em uma eleição disputada na Câmara. “Já não podemos ter tanta certeza de que o governo da presidente Dilma terá cacife para eleger o presidente (da casa)”, diz um representante do PMDB.
A avaliação desse deputado é de que a disputa já está em curso e que a “confusão” na definição do candidato do governo à Presidência da Câmara já é reflexo de uma certa “inabilidade política” da nova administração.
Disputa
A “confusão” na definição do candidato governista começou há cerca de um mês. Contrariados com o “excesso” de políticos paulistas na formação do novo ministério, integrantes do PT acabaram barrando a candidatura de Cândido Vaccarezza (PT-SP) à Presidência da Câmara.
Diante da insatisfação dentro do próprio partido, o governo decidiu recuar e lançar um outro candidato, o deputado Marco Maia (RS).
“Vamos ver como toda essa insatisfação vai se manifestar até fevereiro. Não ficaria surpreso com o surgimento de novas candidaturas até lá”, diz Delgado.
Essa possibilidade, segundo ele, pode estar ainda ligada ao fato de PT e PMDB terem fechado um acordo de “rodízio” na Presidência da Câmara, com os dois partidos dividindo o cargo nos próximos quatro anos.
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