O crédito pessoal no Brasil deve encarecer mais de 5 pontos percentuais ao ano após a elevação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) anunciada ontem pelo ministro da Fazenda Guido Mantega. A avaliação tem como base alteração similar feita anteriormente no IOF de empréstimos a pessoas físicas. Em janeiro de 2008, quando o IOF subiu também de 1,5% a 3% para esfriar a economia, o spread bancário (a diferença entre o custo do dinheiro para o banco e a taxa pelo quanto ele empresta) subiu bruscamente 4,69 pontos percentuais, de 31,92% para 36,61%, segundo dados do Banco Central.
Técnicos do Banco Central avaliam, porém, que o impacto da medida anunciada na quinta-feira deverá ser ainda maior sobre o spread desta vez do que o verificado no início de 2008. Isso ocorreria porque, no início daquele ano, os bancos e tomadores de crédito tinham uma boa alternativa à mão, que era alongar o prazo dos empréstimos para driblar o aumento do custo.
IOF eleva spread bancário
Em janeiro de 2008, aumento do imposto fez custo do empréstimo saltar
Desta vez, porém, as condições são diferentes. Em dezembro do ano passado, o Banco Central passou a exigir mais garantias dos bancos que fazem empréstimos a pessoas físicas por prazos mais longos. Ou seja, se tentar driblar o aumento do IOF de um lado, o banco vai esbarrar em custos maiores de outro lado. Por isso, o impacto da medida sobre o spread tende a ser maior agora do que em 2008.
Em 2008, o aumento do IOF para pessoas físicas em janeiro deu início a um processo que culminou na chegada em dezembro do spread a 44,93%, número que se mantém recorde desde 2005 até agora. Esse aumento também foi estimulado pelo agravamento da crise, mas, com a retomada do IOF de 1,5% em dezembro de 2008, a taxa voltou a recuar e nunca mais voltou a esse nível.
Para Nicola Tingas, economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), a inflação do momento mostra mais uma questão estrutural do que conjuntural. Com isso, olhar só para a restrição de crédito ao consumidor como uma maneira de desacelerar a alta de preços tende a ser insuficiente para contar a escalada da inflação. “Há risco de elevação da inadimplência no futuro”, diz.
Apesar de considerar as medidas do governo necessárias e aceitáveis, ele faz coro com economistas de bancos e defende ajuste e gestão fiscal. “Boa parte das altas de preços que estamos vendo vem de gastos do setor público. Não se pode penalizar o crédito ao consumidor sem olhar também para essa questão.”
Roberto Luís Troster, ex-economista chefe da Febraban e um severo crítico dos altos spreads cobrados pelo sistema financeiro no País, também avalia que a elevação do IOF, a exemplo do que foi feito em 2008, tem pouco impacto para segurar a inflação no momento, apesar das justificativas do governo para atacar o consumo e tentar reduzir as pressões sobre os preços com o encarecimento do crédito.
De acordo com Troster, haverá sim um grande impacto no aumento do spread e uma elevação da inadimplência. “Estamos caminhando para o pior cenário onde as expectativas de inflação estão subindo e as projeções de crescimento sendo revistas para baixo", diz Troster. "Além disso, essa elevação de IOF vai pressionar o consumidor, que é o tomador de crédito, contribuindo para a elevação da inadimplência já que esse aumento dos custos no crédito será repassado integralmente para o consumidor.”(com informações do Banco Central)
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