quarta-feira, julho 20, 2011

O dominó da corrupção

Mais que demitir, é necessário punir os culpados por desvios de recursos públicos

A área de transportes do governo federal está há quase 20 dias mergulhada em crise. A despeito das seguidas demissões – ontem o número subiu para 13 – o mar de irregularidades só aumenta. A estrada da corrupção da gestão petista parece não ter fim.
 
O governo determinou ontem o afastamento de mais seis servidores do Dnit e do Ministério dos Transportes. Busca tentar mostrar que está empreendendo uma “faxina geral” no setor e extirpando os nichos de corrupção encastelados lá desde a gestão Lula.

Demitir é o de menos. Ao exonerar servidores metidos em maracutaias, o governo não faz mais do que a sua obrigação de zelar pelo patrimônio público. Esta inclui, inclusive e principalmente, a necessidade de punir culpados por corrupção e desvio de recursos públicos.

Nenhum dos demitidos até agora era desconhecido de seus patrões ou caíra de paraquedas no cargo. Todos foram postos lá sob beneplácito da presidente ou, antes, sob a vigilância da gerente que tudo via, tudo sabia. Dilma Rousseff é, pois, responsável direta tanto pelas escolhas erradas de agora quanto pela proliferação dos malfeitos ao longo de anos passados.

Nos dias iniciais da crise, a presidente chegou a hipotecar apoio público ao então ministro dos Transportes. Na manhã de uma segunda-feira, dois dias depois de divulgadas as primeiras denúncias pela revista Veja, mandou circular uma nota à imprensa em que manifestava “confiança” em Alfredo Nascimento. Dois dias depois, ele caiu.

Os agora demitidos tinham ligações umbilicais com Nascimento e com Valdemar Costa Neto. Gozavam, portanto, da “confiança” do governo até agora e só caíram em desgraça depois que a imprensa descobriu mais falcatruas nas obras viárias do país.

As demissões não devem parar. Nos próximos dias, devem cair funcionários do Dnit de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul e do Rio, especula o Estadão. Também é esperada a exoneração do diretor de Infraestrutura Rodoviária do órgão, o petista Hideraldo Caron, e do presidente interino da Valec, Felipe Sanches.

Se não sabe que as superintendências do Dnit espalhadas pelo país estão completamente loteadas e ocupadas pelo Partido da República, em condomínio com o PT, Dilma deveria saber. Se não soube disso à época em que tinha a incumbência de gerenciar toda a estrutura estatal, como “mãe do PAC”, basta agora ler os jornais.

Mostra hoje o Valor Econômico que, das 27 diretorias regionais do Dnit, pelo menos 16 estão intimamente ligadas às lideranças do PR. “Nos estados de Alagoas, Amazonas, Roraima, Mato Grosso do Sul, Pará, Amapá, São Paulo, Sergipe, Goiás e no Distrito Federal, a liderança está nas mãos de pessoas oficialmente filiadas ao partido. Nos estados de Espírito Santo, Bahia, Mato Grosso, Paraná, Pernambuco e Tocantins, o comando é feito por servidores não filiados ao PR, mas indicados por líderes do partido.”

Esta turma é especialista em turbinar contratos e aumentar gastos, mas péssima em realizar obras. Os “republicanos”, porém, não estão sozinhos. Têm a companhia dos petistas, que, como se sabe, dominam as obras na região Sul do país e lá protagonizam lambanças colossais.

Um caso gritante é relatado hoje por O Globo: o da obra de duplicação dos 348 km da BR-101 entre Palhoça (SC) e Osório (RS). Ao longo de seis anos, já foram assinados 23 contratos e 268 termos aditivos, que aumentaram o preço do empreendimento em pelo menos R$ 317,7 milhões. O governo já gastou quase R$ 2 bilhões na duplicação, que ainda deve levar mais quatro anos para ser concluída, se é que será, com custo ainda mais elevado.

“O superintendente do Dnit [em SC], João José dos Santos, apadrinhado da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, manteve trechos parados por até dois anos. Como resultado, além do atraso, criou-se um emaranhado de trocas de empreiteiras, que se alimentam dos incessantes termos aditivos”, informa o jornal.

Não são só obras de estradas que não avançam, jogando por terra o discurso de “eficiência” cultivado por anos em torno da então ministra-chefe da Casa Civil e hoje presidente da República. As obras do PAC na Rocinha estão paradas; a licença para a implantação da ferrovia Oeste-Leste, na Bahia, foi suspensa; a construção do novo aeroporto internacional de Natal está sob suspeita de desvio de dinheiro… Se é para dar faxina, tem muito mais coisas precisando ser passadas a limpo.

 Fonte: ITV – Carta de Formulação e Mobilização Política Nº 280

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