Brasil tem de encarar seus pontos fracos, diz 'Economist'
Revista destaca o risco de a melhor fase da prosperidade nacional ter ficado para trás; dar um salto a outro patamar de desenvolvimento requer reformas
A tradicional revista britânica The Economist dedicou duas matérias ao Brasil na edição desta semana, nas quais chama a atenção para o risco de a economia brasileira ter deixado para trás sua fase de maior pujança e dá um puxão de orelha no governo Dilma: já é hora de encarar de frente as fraquezas do país.
Uma das reportagens, intitulada 'A reação do Brasil', comenta que uma taxa de crescimento em torno de 3,5% neste ano pode parecer confortável, mas está abaixo do que o país poderia oferecer. O problema é que um quadro de maior pujança está cada vez mais distante. A revista afirma que algumas das fontes responsáveis pelo bom desempenho do PIB nos últimos anos estão se esgotando, como, por exemplo, o fornecimento de commodities para a China e o 'bônus' da revolução regulatória promovida pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Além disso, há críticas sobre o fato de o país ter se tornado um lugar muito caro para fazer negócios, graças à elevada carga tributária, ao desperdício de dinheiro público e a leis descabidas.
A reportagem relembra que a economia brasileira expandiu-se 7,5 % em 2010, tornando-se a sétima maior do mundo. "O país acostumado a hiperinflação e a calotes finalmente relaxou", diz. O tempo de comemoração, contudo, foi curto. Em 2011, o crescimento foi de apenas 2,7%, bem abaixo da faixa de 4,5% a 9% em que estão situados os desempenhos de outros membros do grupo dos Brics. Para piorar, analistas reduzem dia após dia suas expectativas de crescimento para este ano. A Economist conclui que as recentes reduções de juros – tanto a taxa básica como as cobradas pelas instituições financeiras – até podem ajudar a economia, mas não muito, uma vez que os consumidores já estão superendividados e os bancos, apertados.
A revista destaca também o argumento do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que o governo vem cortando tributos para ajudar a indústria e que a arrecadação segue em alta porque mais empresas estão se formalizando. Oferece também o contraponto ao citar Raphael de Cunto, sócio do escritório de advocacia Pinheiro Neto, que critica o governo. Para ele, o Planalto está muito mais empenhado em cobrar do que em simplificar, aumentando a carga tributária das empresas. Alguns economistas ouvidos pela Economist ressaltam também o indesejado aumento da intervenção do estado na economia. Joseph Harper, da Explorador Capital Menagement, diz que a Petrobras e a Vale preocupam-se hoje mais com os interesses do governo do que com seus acionistas minoritários.
Diante de um quadro que se apresenta cada vez menos favorável, as velhas reformas tributária, fiscal, trabalhista, entre outras, mostram-se urgentes. A revista reconhece o esforço da presidente Dilma Rousseff em querer eliminar o déficit fiscal, além de elogiar os cortes de impostos para indústria, a privatização dos aeroportos e o ataque ao oligopólio bancário existente no país – uma das razões que explicam o fato de o Brasil ter um dos spreads mais altos do mundo. "Mas, mesmo assim, seus esforços são tímidos", afirma a revista.
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