quarta-feira, dezembro 05, 2012

Falta de regras atrapalha investigação de criminosos

Falta de regras atrapalha investigação de criminosos

 
 
 
O presidente da Associação dos Delegados da Polícia Federal (ADPF), Marcos Leôncio, acredita que a regulamentação da troca de informações entre os órgãos de investigação, o acesso a dados não protegidos por sigilo e a possibilidade de policiais não serem imputados criminalmente após se infiltrarem em organizações criminosas reforçam o combate ao crime organizado. “Não estamos tratando de qualquer crime, mas de sofisticadas e violentas organizações que precisam ter resposta dura do Estado”, diz o presidente da ADPF.
 
 
Por falta de regras, a infiltração acaba sendo pouco utilizada pelos policiais. “Hoje elas são feitas de maneira muito superficial. A polícia se socorre da Convenção de Palermo. Mas há o risco de o juiz dizer que não há lei que respalde a convenção no Brasil”, explica.


O delegado também reclama que as restrições impostas pela legislação atual dificultam o acesso a dados dos investigados. Pelo projeto, os delegados e o Ministério Público terão acesso a dados cadastrais do investigado como filiação e endereço independentemente de autorização judicial, mantidos pela Justiça Eleitoral, pelas empresas telefônicas, pelas instituições financeiras, pelos provedores de internet e pelas administradoras de cartão de crédito.


Constrangimento


“Hoje existe uma briga. Mandamos um documento a uma telefônica, que envia o pedido para o setor jurídico. Eles retornam dizendo que não vão repassar os dados que solicitamos. Não há punição. Fica constrangedor”, observa.


Caso a proposta vire lei, os investigadores terão facilidade para apurar se determinado suspeito de participar de organizações criminosas utilizou o cartão de crédito em determinada região, que número de telefone ele utiliza e onde ele declarou à Justiça eleitoral morar, por exemplo.


“Só quero acessar dados cadastrais, não protegidos pela Constituição Federal, de organizações criminosas. Não estamos falando de um criminoso qualquer. Não vamos invadir a privacidade das pessoas. Mas atacar grupos que merecem resposta mais dura”, considera Marcos Leôncio.


Para o presidente da Associação Nacional dos Membros do Ministério Público (Conamp), César Mattar Júnior, o Estado precisa ter mais mecanismos para atacar financeiramente as organizações criminosas. “É preciso que o Estado tenha recursos fortes para alcançar os crimes perpetrados pelas organizações criminosas na receita. Para isso, é preciso que tenha acesso aos cadastros, às contas e investimentos”, defende.


Caso seja aprovado pela Câmara, o projeto de lei terá de ser examinado pelo Senado novamente. Como foi apresentado pela ex-senadora Serys Slhessarenko, a palavra final sobre a proposta caberá aos senadores.


Crime organizado


O projeto que tipifica as organizações criminosas e disciplina os meios de investigação desses grupos se junta à nova Lei da Lavagem, aprovada pelo Congresso em junho, entre as prioridades do governo para combater o crime organizado.(Congresso em Foco)



 

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