Companheiro Tancredo Neves, eu não vou chamar você de Excelência logo agora que, mais do que nosso presidente, você é nosso irmão ferido que se vai. Foi você quem conduziu de, uma ponta a outra do País, uma tocha de chama verde como a esperança.
Esperança é uma palavra gasta, mas não era a palavra, era a esperança mesmo, que você carregava, e ela ainda Luzia em suas mãos hoje, no momento derradeiro, num quarto de hospital em São Paulo.
E quando suas mãos se apagaram, essa chama brilhou no céu da pátria nesse instante. Pátria é uma palavra gasta, mas pátria é terra, é mãe, embora muitos de nós, milhões de nós, ainda vagueiem órfãos pelas cidades, pelos campos, sem o penhor de uma igualdade que temos de conquistar com o braço forte.
Pátria é uma palavra gasta, mas em seu seio dormirás amigo, no chão macio de São João Del Rey, amado por teu povo, à luz de céu profundo. Povo também é uma palavra gasta, mas o povo, o povo mesmo despertou quando lhe prometeste uma Nova República, iluminada ao sol do mundo. E ela virá, e tu a construirás conosco, erguendo nossos braços, cantando em nossa boca, caindo e lutando como este povo em que, ao morrer, te transformastes.
Assinado: poeta Ferreira Goulart.
*Publicado no DIARIO DE PERNAMBUCO, Diario Político. Coluna de José ADALBERTO RIBEIRO, em 23 de abril de l985.
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