domingo, dezembro 15, 2013

Suécia dá lição de moral sobre airbag ao Brasil

“Não há justificativa moral para nenhuma morte no trânsito”. A frase é de um vídeo institucional sueco sobre o programa Visão Zero, desde 1997 vigente no país escandinavo. O lema desta estratégia – que orienta as ações da indústria de inovação e de automóveis da Suécia, assim como do governo – é que “nenhuma perda de vida é aceitável” (“no loss of life is acceptable”, em inglês).É de se supor que a seriedade com que o programa foi levado pela nação nórdica – e posteriormente replicado pela maior parte da União Europeia – faria corar o governo brasileiro diante dos últimos movimentos políticos observados por aqui. Na quarta, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que pode ser postergada a obrigatoriedade de que 100% dos veículos nacionais saiam da fábrica com airbag duplo e freios ABS, itens de comprovada eficácia para salvar vidas no trânsito (veja benefícios ao final). Em 2011, 43 mil pessoas perderam a vida em acidentes nas vias do Brasil, segundo o Ministério da Saúde. “Há uma preocupação com emprego, e uma outra preocupação é com o preço, que vai subir“, disse o ministro ao Jornal Nacional, ontem. A resposta final sairá na próxima 3ª feira. O governo em parte age pelo lobby declarado de sindicatos que temem demissões – pelo menos três populares modelos teriam fabricação suspensa por terem concepção tão antiga que não merecem adaptações às novas normas (Uno Mille, Gol G4 e Kombi) – e em parte age com medo que o aumento de preços, calculado entre R$ 1 mil e R$ 1,5 mil por automóvel, pressione a inflação em 2014, ano eleitoral. Diante disso, o programa sueco continua com potencial de causar constrangimentos.“Alguns argumentam que esta alta tolerância (com as mortes) é o preço que temos que pagar pela mobilidade. Nós discordamos”, diz o mesmo vídeo citado ao início desta reportagem. Substituída a palavra “mobilidade” por “controle da economia”, a crítica poderia ter destinatário certo. Segundo o Mapa da Violência 2013, estudo da OCDE, grupo que reúne nações ricas, mostra que países que adotaram seriamente esta “visão zero” de mortes no trânsito diminuíram em 50% o número de vítimas desde 1970, mesmo com a frota tendo aumentado fortemente no período. No Brasil, em 1980, foram 20,2 mil mortes. Em 2011, como já mencionado, mais que o dobro disso. A decisão do governo brasileiro - alheia aos benefícios de equipamentos tidos como exigências mínimas em países desenvolvidos - é ainda mais impressionante porque a resolução do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), que regulamentou a medida, é de 2009. Ela permitiu às montadoras nacionais que escalonassem a produção com esses itens de 30%, em 2012, para 60%, em 2013, até os supostos 100% do ano que vem. Todas as fabricantes afirmam não ter influenciado no recuo. Independentemente disso, o fato é que os parques industriais já estão prontos para que todos os modelos saiam com airbags e ABS de série, alegam elas próprias. Se a resolução for postergada, no entanto, o mais provável é que as empresas reavaliem as vantagens econômicas de adotá-los em toda linha. Benefícios A NHTSA, agência que cuida da segurança no trânsito nos Estados Unidos, calculou em 2009 que 54% das vidas em acidentes poderiam ser salvas com a adoção conjunta de airbags frontais e cintos de segurança pelos motoristas, embora o cinto por si só já apresente eficácia de 48%.

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