Há alguns meses, o Brasil compartilha das mesmas mazelas macroeconômicas de países que deixaram de possuir o grau de investimento conferido pelas agências de classificação de risco, como Rússia, Turquia e Portugal. São elas: alto endividamento, incapacidade para gerar superávit primário (a economia para pagar juros da dívida), baixo nível de investimento, gastos públicos excessivos e inflação acima da meta. A isso se soma a instabilidade política, que adia a implementação do ajuste fiscal e, consequentemente, o processo de retomada econômica. Nesta terça-feira, uma das agências, a Standard and Poor's (S&P), revisou para baixo a perspectiva da nota de crédito do país e deixou o Brasil a um passo de perder o selo de confiança. O castigo deve vir no começo do ano que vem.
Na prática, contudo, o rebaixamento já chegou. Como a reação do mercado é captada antes que a das agências, o risco de rebaixamento já vem sendo precificado há meses. "O que está em jogo é quanto de juros o Brasil precisa pagar a mais para que as pessoas comprem seus ativos. O que se sabe é que esse valor não é diferente do cobrado para países sem grau de investimento", diz Alexandre Schwartsman, economista e ex-diretor do Banco Central (BC).
Para João Augusto de Castro Neves, diretor para América Latina da consultoria Eurasia, alguns efeitos dessa precificação são a oscilação no câmbio e a queda nos investimentos do país. "No segundo semestre, a volatilidade deve se acentuar. No horizonte, temos a continuidade das investigações da Operação Lava Jato, dúvidas sobre o impeachment, além da aprovação de 'bombas' fiscais por parte do Congresso", diz. O dólar se valorizou 26% de janeiro a julho, enquanto os investimentos medidos pela Formação Bruta de Capital Fixo recuaram 6,9%, segundo os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referentes ao primeiro trimestre do ano na comparação com 2014.
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