Fabricio Rocha é jornalista
repórter e apresentador da TV Câmara.
De vez em quando durante minhas caminhadas ou panfletagens alguém levanta a pergunta: "mas como é que você vai fazer alguma coisa na Câmara Legislativa sem coligações, sem maioria, sem se corromper?".
De tão acostumado com político ladrão, o brasiliense já parece considerar impossível que alguém faça política de forma honesta e baseada tão somente no confronto de idéias. Respondo que se as propostas forem boas, chamarem a atenção da imprensa e da sociedade, e forem colocadas de maneira estratégica, fica mais fácil aprová-las. Exemplifico com a idéia de acabar com o 14º e o 15º salário dos deputados distritais. Se houver recusa ou engavetamento do projeto, como já aconteceu, que tal então a convocação de um plebiscito sobre o assunto? Mesmo que o plebiscito não ocorra, haverá uma mobilização da sociedade -- e com o eleitor batendo na porta da Câmara Legislativa, a turma lá vai ter que pensar antes de cair na malandragem ou de rejeitar uma proposta de interesse público.
Até tenho me saído bem ao dar explicações desse tipo e falar sobre a urgência de mudanças, por nunca ter sido político e por ser de um partido pequeno porém honrado e limpo. Mas eu queria saber como se saem os candidatos que já passaram por lá e não fizeram nada -- ou pior, foram parte da pilantragem generalizada. Ou os novatos que estão em partidos ou coligações que abrigam nomes mais sujos que poleiro. Uns têm a cara de pau de dizer que representam "mudança" mesmo sendo ligados ao que existe de mais repugnante e estagnado na política de Brasília.
Para garantir que haja mudança -- ou pelo menos que ela seja tentada -- é preciso não só pensar bem na escolha do governador, mas também eleger para distrital alguém que com certeza vai fazer uma oposição ferrenha ao candidato a governador que você não quer, caso este venha a se eleger. E que vai lutar, na Câmara Legislativa, pelas idéias e princípios que você gostaria de ver implementados pelo governador que você escolheu.
A verdadeira mudança que queremos é mais simples do que o amontoado de ideias estapafúrdias que estamos vendo todos os dias no Horário Eleitoral Gratuito. Em vez de distribuição de lotes ou de casas com 4 andares ou mais, poderemos resolver os problemas de moradia no DF com uma política habitacional de verdade, com criação de bairros e cidades de acordo com os conceitos urbanísticos originais de Brasília, com a preservação do Cerrado nativo e das águas, com respeito cronológico à lista de inscrições para recebimento de terrenos. Antes de gastarmos uma fortuna em estacionamentos subterrâneos que serão entregues a empresários "amigos do rei", devemos investir em uma reforma do transporte coletivo e em um sistema de ciclovias integrado a ele. Se queremos mudança de verdade, não podemos aceitar a filosofia do "rouba mas faz", nem a farra da distribuição de cargos comissionados.
O cidadão pode fazer isso tudo simplesmente apertando os botões certos na urna eletrônica. São as escolhas do eleitor que vão definir se a política do DF vai continuar baseada em alianças espúrias, corrupção, troca de favores e demagogia. Ou se teremos, realmente e enfim, a mudança que desejamos.
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