O ex-presidente do Equador, Lucio Gutiérrez, negou nesta sexta-feira as acusações do presidente Rafael Correa de que seria o mentor dos protestos de policiais no país, que deixaram ao menos dois mortos e 88 feridos. Segundo o governo, as manifestações foram uma tentativa de golpe.
Ele falou à BBC Brasil de um hotel em Brasília onde está hospedado para acompanhar as eleições presidenciais no país.
Ele explicou que está em Brasília para observar o processo eleitoral, especialmente o voto em urnas eletrônicas, já que tem interesse em tentar implementar essa tecnologia brasileira no Equador.
Para o ex-presidente, Correa o acusou de ser um mentor de um golpe para desviar a atenção de denúncias recente de favorecimento político a seu irmão, Fabrício Correa, e também da crise econômica que atinge o país.
Gutiérrez, que governou o Equador entre 2003 e 2005, disse que os líderes latino-americanos poderiam ajudar a resolver a crise que se instaurou no Equador conversando com todas as lideranças políticas do país, para fortalecer a democracia.
“O presidente Lula tem que conversar também com a oposição”, afirma o ex-presidente.
Segundo ele, não basta conversar apenas com o governo, como fez a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, ao visitar o país em maio.
O estopim dos protestos foi a aprovação de uma lei no Congresso que prevê mudanças nas regras para o pagamento dos policiais, que alegam ter perdido benefícios.
Correa, que foi alvo de um ataque com gás lacrimogêneo e ficou preso em um hospital por algumas horas, diz que o episódio não foi uma reivindicação salarial, mas sim uma "tentativa de desestabilização e de se iniciar uma guerra civil".
Gutiérrez acredita que a insatisfação dos policiais é justa, já que a lei é “injusta”.
“Ela (a lei) certamente prejudica os direitos dos policiais. Prova disso é que nem os aliados de Correa (no Congresso) concordavam com ela.”
Na opinião de Gutiérrez, o mais grave é a crise ter sido iniciada por causa de “pouco dinheiro”. Isso porque, segundo ele, a lei aprovada “prejudica policiais que já ganham muito pouco”.
O equatoriano acredita que os policiais não tinham o objetivo de tornar os protestos tão violentos. Para ele, o culpado é Correa, que “tem o costume de incitar a violência por onde passa”.
Na sexta-feira, Correa disse que vai depurar a polícia, para evitar novas crises, e nomeou um novo chefe na corporação.
O presidente equatoriano narrou a crise da véspera aos chanceleres da Unasul, que viajaram à Quito para reiterar o apoio do bloco ao sistema democrático do país.
No encontro, ficou acordado que até a próxima reunião do bloco, prevista para 24 de novembro, o países definirão os mecanismos para aplicar sanções aos países cujos governos derivem de golpes de Estado.

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