Com suas tropas militares há mais de seis anos no Haiti, o Brasil é um dos países mais interessados no sucesso do pleito deste domingo, quando o país caribenho vai às urnas escolher um novo presidente e congressistas.
Desde que passou a liderar as tropas de paz das Nações Unidas no país caribenho, em 2004, o governo brasileiro já gastou mais de R$ 700 milhões na operação, segundo levantamento do site Contas Abertas.
A ajuda financeira ficou ainda maior com o terremoto de 12 de janeiro, que devastou o Haiti. Desde então o Brasil doou mais de US$ 220 milhões, seja por meio de transferências diretas ou via projetos de cooperação.
“O sucesso do pleito certamente vai comprovar que os esforços para a recuperação política e estrutural do Haiti estão valendo a pena. Estamos diante de uma eleição que tem tudo para ser histórica”, diz um interlocutor da Presidência.
De acordo com essa fonte, o mesmo raciocínio pode ser aplicado de forma contrária: ou seja, um processo eleitoral sob forte violência ou ainda com baixo comparecimento às urnas poderá não apenas desestabilizar o Haiti como também dar “munição” aos críticos da política externa brasileira.
‘Exagero’
Um dos principais argumentos da ala mais crítica à política externa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é de que haveria “exagero” na busca brasileira por um protagonismo na recuperação do Haiti, o que estaria relacionado ao interesse do Brasil por um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.
O governo brasileiro também evita apontar preferidos entre os 19 candidatos que disputam a Presidência haitiana. Segundo a fonte do Palácio do Planalto, um governante eleito com legitimidade já seria visto como “uma conquista”.
Dois candidatos têm sido apontados como prováveis adversários em um 2º turno: a oposicionista de centro-esquerda Mirlande Manigat e o engenheiro Jude Celestin, candidato apoiado pelo atual presidente, Rene Preval.
Ano ‘dramático’
Além do terremoto de janeiro, que deixou mais de 200 mil mortos e arruinou a infraestrutura do país, o Haiti enfrenta agora uma epidemia de cólera, responsável pela morte de aproximadamente 1,5 mil pessoas, segundo as autoridades locais.
O chefe do departamento de América Central e Caribe do Itamaraty, ministro Rubens Gama Filho, diz que, apesar de um ano “dramático” no Haiti, o país passa por um período pré-eleitoral relativamente calmo na comparação com eleições anteriores.
“Os relatos que tenho recebido é de que estamos caminhando para uma eleição surpreendentemente tranquila”, diz o diplomata.
Segundo ele, a possibilidade de um baixo comparecimento às urnas, como vêm prevendo alguns especialistas haitianos, deve ser analisada “com cautela”.
A expectativa é de que 40% de um total de aproximadamente 4,5 milhões de haitianos compareçam às urnas neste domingo, o que para alguns poderia comprometer a legitimidade da votação.
“Antes de esse índice ser considerado baixo é preciso fazer certas ponderações. É importante lembrar, por exemplo, que o voto não é obrigatório”, diz Gama Filho.
Observadores
O representante da Organização dos Estados Americanos (OEA) no Haiti, Ricardo Seitenfus, diz que a eleição deste ano terá mais de 120 observadores e que estes farão um trabalho mais “ativo”.
“Eles não vão apenas fazer relatórios para aprimorar eleições futuras. A ideia é de qualquer incidente ou fato estranho seja reportado aos principais atores internacionais no país, dentre eles a OEA e a Minustah (Missão de Paz da ONU)”, diz Seitenfus.
O Brasil terá dois representantes no grupo: Joelson Dias, ministro substituto do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e Paulo Tarso Tamburini, juiz do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
O representante da OEA vê a eleição deste domingo como uma “janela de oportunidade”, com a possibilidade de um presidente conseguir terminar seu mandato e entregar a faixa para um governante democraticamente eleito.
“A reconstrução do Haiti estará nas mãos desse novo governante. Por isso, mais do que nunca o país tem a necessidade de escolher um presidente de forma justa e legítima”, diz.(BBC NEWS)
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