A postura política do Brasil de negar a existência de ameaças terroristas no país contrasta com as ações dos serviços de segurança brasileiros, na avaliação descrita pela embaixada dos Estados Unidos em Brasília em documento secreto divulgado pelo site Wikileaks.
“Há dois discursos separados no governo do Brasil sobre contraterrorismo; politicamente, o Brasil continua a negar a presença e a ameaça potencial de terroristas e do terrorismo no Brasil, enquanto os órgãos de aplicação da lei e de inteligência monitoram e cooperam para combater a ameaça”, diz o documento.
Segundo o documento diplomático, um dos quatro relacionados ao Brasil já divulgados pelo Wikileaks, os serviços de segurança e inteligência do país “estão preocupados com a possibilidade de que terroristas explorem o território brasileiro para apoiar e facilitar ataques terroristas, domesticamente ou no exterior, e concentraram seus esforços nas áreas de São Paulo, nas tríplices fronteiras entre Brasil, Argentina e Paraguai e entre Brasil, Colômbia e Peru e nas fronteiras com a Colômbia e com a Venezuela”.
‘Parceiro’
Outro documento anterior, enviado pela embaixada americana em janeiro de 2008, afirma que o Brasil “é um parceiro cooperativo nas atividades de contraterrorismo” no país, mas observa que o tema é politicamente sensível.
O comunicado da embaixada cita prisões feitas pela Polícia Federal de indivíduos com supostas ligações com o extremismo, mas sob acusações de crimes não relacionados, como narcotráfico e contrabando, para evitar chamar a atenção.
“Os mais altos níveis do governo brasileiro, particularmente o Ministério das Relações Exteriores, são extremamente sensíveis a quaisquer afirmações públicas de que terroristas podem ter uma presença no Brasil – seja para arrecadar fundos, organizar logística ou mesmo transitar pelo país – e rejeitam vigorosamente qualquer afirmação que sugira isso”, diz o telegrama.
Para a embaixada, essa sensibilidade do Itamaraty teria como explicação um temor de estigmatizar a comunidade islâmica no Brasil ou de prejudicar a imagem da região como destino turístico.
O documento cita ainda uma suposta postura pública das autoridades brasileiras de evitar serem vistas como muito próximas à chamada ‘Guerra ao Terror’ americana, considerada muito agressiva.
A assessoria de comunicação da Polícia Federal disse que o órgão não comentaria o assunto, por se tratar de documentos internos do governo americano.
O Itamaraty também afirmou que não se pronunciaria sobre o assunto.
Dilma
Os documentos americanos sobre o Brasil também demonstram uma preocupação com o arquivamento de um projeto de lei sobre contraterrorismo, em novembro de 2007, e citam uma suposta ingerência da presidente eleita Dilma Rousseff, então ministra-chefe da Casa Civil.
Um dos comunicados observa que “alguns relatos noticiosos sugeriram que a poderosa chefe de gabinete do presidente Lula enterrou o projeto de lei, que tinha sido atacado por alguns ativistas sociais e grupos que temiam que a lei fosse usada contra eles e o compararam à repressão da era militar”.
O documento cita a opinião de vários analistas ouvidos pelos diplomatas americanos em busca de informações sobre as razões que levaram ao arquivamento do projeto.
Informações secretas
Outro documento divulgado pelo Wikileaks relata um encontro em 2005 entre o então embaixador americano em Brasília, John Danilovich, e o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge Armando Felix.
No relato de Danilovich, os dois discutiram as ações brasileiras de combate ao terrorismo e outras áreas de possível cooperação entre os dois países.
O general Felix teria comentado ao embaixador que uma área na qual o Brasil tinha dificuldades e gostaria de ajuda americana era na proteção aos seus sistemas de computador com informações secretas.
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