O Plano Nacional de Defesa (PND) do Brasil, lançado em 2008, seria condescendente com a "tradicional paranoia brasileira" em relação às organizações não-governamentais (ONGs) que atuam na Amazônia, segundo um telegrama do ex-embaixador americano no Brasil Clifford Sobel revelado pelo site Wikileaks.
"Um dos elementos mais notáveis da estratégia (PND) tem sido o foco na defesa da região amazônica", diz o documento vazado.
"Enquanto o documento nota que a região enfrenta desafios correntes, desde fronteiras não-controladas e potencial instabilidade em países vizinhos, ele também é condescendente com a tradicional paranoia brasileira sobre as atividades de ONGs e outras forças estrangeiras obscuras, popularmente percebidas como possíveis ameaças à soberania brasileira", afirma Sobel no telegrama.
O ex-embaixador criticou o PND como não sendo uma estratégia, mas "um conjunto de ideias".
Clifford afirma no comunicado que o documento não especifica como as medidas vão ser implementadas ou como vão ser financiadas.
"É provável que os gastos com a Defesa não vão aumentar a ponto de cumprir as metas a curto prazo de equipar as Forças Armadas com tecnologia de ponta produzida no Brasil", diz.
O embaixador descreve como “independência” (escrita no telegrama entre aspas) o que percebe ser o desejo brasileiro de controlar a produção de armamentos e priorizar alianças com países que transfiram tecnologia.
Ele comenta que o então ministro do Planejamento Roberto Mangabeira Unger “dá mais importância à ‘independência’ do que à capacidade militar ou ao uso eficiente de recursos”.
'Elefante branco'
O telegrama ainda descreve o submarino nuclear brasileiro, cuja construção foi anunciada em 2008, em parceria com a França, como um “elefante branco politicamente popular”.
No comunicado, Sobel também critica o trabalho da mídia a respeito o PND. "Talvez o comentário mais significativo do Brasil sobre a estratégia de defesa seja a falta de comentário”, diz.
“A maior parte da cobertura na imprensa brasileira se baseou em comunicados de imprensa oficiais, em alguns casos, por exemplo, relatando com inexatidão que a estratégia poderia incluir a possível taxação de empresas privadas para financiar a Defesa.”
Vazamento do Wikileaks
O Wikileaks começou no último domingo a publicar um lote de 250 mil mensagens secretas trocadas entre diplomatas dos Estados Unidos.
Os comunicados – muitos deles confidenciais - revelaram opiniões controversas de autoridades americanas a respeito de líderes mundiais e trouxeram à tona informações sobre os mais variados assuntos relacionados à política externa.
A divulgação dos dados causou fortes reações de repúdio nos Estados Unidos. A Casa Branca afirmou que o Wikileaks é “irresponsável” e “coloca vidas em risco”.
Já o fundador do site, o australiano Julian Assange, defendeu o vazamento e disse que as autoridades americanas têm medo de assumir responsabilidades.
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