O secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, sugeriu nesta segunda-feira, em visita a São Paulo, que o Brasil deve ser cuidadoso ao lidar com o recente aumento no fluxo de capitais com destino ao país e com a consequente valorização do real.
"Administrar fuxos de capitais nestas circunstâncias não é uma tarefa fácil", afirmou. "O fato é que é muito difícil usar apenas ferramentas de política monetária para reduzir a inflação sem colocar mais pressão na taxa de câmbio."
Em entrevista coletiva durante evento na Fundação Getúlio Vargas, Geithner acrescentou que esse "fardo" colabora para a valorização excessiva do real frente ao dólar.
"Países que enfrentam um fardo incomum de ajuste e taxas cambiais flexíveis sobrevalorizadas podem ter de adotar medidas macroprudenciais cuidadosamente planejadas, como um complemento para reformas fiscais", apontou o secretário de Tesouro americano, em um comunicado distribuído pouco antes da coletiva.
Ação conjunta
Durante a passagem por São Paulo, Timothy Geithner também defendeu uma ação conjunta global para lidar com as disparidades cambiais globais, em um momento em que os Estados Unidos pressionam a China para valorizar sua moeda, o yuan, artificialmente desvalorizada para garantir a competitividade global do país asiático.
De acordo com o chefe do Tesouro americano, "não se pode fazer política econômica isoladamente".
"O Brasil e outros mercados emergentes não podem lidar com esses desafios apenas com suas próprias políticas econômicas. Precisam - assim como nós - do apoio das escolhas políticas das outras grandes economias", observou Geithner.
"À medida que países com grandes superávits (caso da China) agirem para fortalecer a demanda interna em suas economias, para abrir seus mercados de capital e para permitir que suas moedas sejam reflexo de suas economias, veremos mais equilíbrio no fluxo de capital, menos pressão para valorizar a moeda brasileira e um crescimento mais robusto das exportações do Brasil."
Segundo Geithner, a China "já reconhece que é muito grande para crescer neste modelo" baseado em exportações e trabalha para criar um mercado interno consumidor.
Ele afirmou ainda que não vê riscos nos freios impostos pelos países emergentes a suas economias, porque a medida "provavelmente será melhor para o crescimento em longo prazo".
O secretário chegou ao Brasil como parte dos preparativos para a visita do presidente americano, Barack Obama, ao país, em março.
Geithner esteve em São Paulo, onde tomou café da manhã com empresários e economistas e, em seguida, respondeu perguntas de estudantes em um debate mediado por Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central, na Fundação Getúlio Vargas.
Depois, partiu rumo a Brasília, onde se reuniu com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Em comunicado, o BC apenas informou que Geithner e Tombini "conversaram sobre as perspectivas das economias norte-americana, brasileira e mundial, e sobre a agenda financeira internacional, incluindo os desafios atuais para solidificar o crescimento econômico e a estabilidade financeira por meio de esforços conjuntos de todos os membros do G20".
Às 17h (horário de Brasília), se encontrou com a presidente Dilma Rousseff, em reunião fechada à imprensa. Geithner já retornou aos Estados Unidos ainda na segunda-feira.
Conversas
Em São Paulo, Geithner foi questionado pela imprensa sobre o anúncio de um estímulo de US$ 600 bilhões à economia americana no final do ano passado, o que teria contribuído para a valorização de moedas em mercados emergentes, inclusive o real.
O secretário respondeu que não comenta as políticas monetárias estabelecidas pelo Fed (Federal Reserve), o Banco Central americano, mas disse que as medidas que levam ao crescimento dos Estados Unidos são uma "estratégia que também é boa para o mundo".
Outro tema na pauta bilateral é uma proposta francesa de regulamentação dos preços globais no mercado de commodities, que pode afetar o desempenho de produtos exportados pelo Brasil.
O secretário do Tesouro americano disse aos jornalistas em São Paulo que ainda não está clara qual é a proposta da França, mas acrescentou que a preocupação dos Estados Unidos "será proteger o mercado contra manipulações (de preços)".
Geithner disse ainda que se esforçará para construir uma "agenda cooperativa entre Brasil e Estados Unidos".
"Temos interesses em comum de que o crescimento seja equilibrado no mundo", declarou o secretário. Para ele, a grande diferença entre déficits e superávits dos países tem que ser combatida para não colocar em risco "o crescimento futuro global".(BBC News)
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