terça-feira, agosto 16, 2011

Casal vive drama para conseguir cirurgia para filha recém-nascida

Nascida há apenas 24 dias, Júllya Fontenele Silva é protagonista de uma batalha contra o estado para sobreviver. Ela precisa urgentemente de uma cirurgia de retirada de um raro tumor do coração, que a impede de respirar sozinha e acelera perigosamente os batimentos cardíacos. Mesmo com tantos laudos médicos ressaltando a necessidade premente de intervenção cirúrgica, a família teve de recorrer à Justiça para fazer com que a Secretaria de Saúde providenciasse o atendimento adequado no Instituto de Cardiologia do Distrito Federal. Mas, para isso, passaram-se sete longos dias de agonia e de agravamento do estado de Júllya.

Ontem, no fim da tarde, a secretaria confirmou a transferência da recém-nascida para o Instituto de Cardiologia do DF, unidade particular referência no tratamento de patologias cardíacas. O drama do casal formado pela vendedora Rafaele Pereira Fontenele, 23 anos, e o policial militar Antonio Pedro da Silva Filho, 33, começou três dias após o nascimento de Júllya, no Hospital Regional da Asa Norte. Inconstâncias nos batimentos cardíacos — primeiramente diagnosticamos como um sopro — e problemas para respirar levaram a pequena a se submeter a um ecocardiograma. “Constataram um tumor na valva mitral. Isso é raríssimo, geralmente só é visto em pessoas com mais de 40 anos. Os médicos querem até estudar o caso de Júllya”, conta Rafaele.

A presença da massa no coração da menina faz com que o coração chegue a bater 300 vezes por minuto, o que pode levar à morte, sem falar no risco de acidente cardiovascular (AVC) e insuficiência respiratória. O batimento normal para um recém-nascido é de até 160 por minuto. Desde 3 de agosto, ela esteve sob os cuidados da unidade de terapia intensiva neonatal do Hospital Regional de Santa Maria, enquanto aguardava na lista de espera de uma UTI no ICDF. Mas o quadro clínico de Júllya deteriorou-se: ela passou a respirar somente com ajuda de aparelhos e é constantemente sedada para impedir acelerações bruscas no ritmo cardíaco. Angustiados com a falta de perspectivas, os pais recorreram à Defensoria Pública do DF e deram entrada com uma ação contra o Governo do Distrito Federal.

Em 6 de agosto, o juiz plantonista Giordano Resende Costa, da 4ª Vara de Fazenda Pública do Tribunal de Justiça do DF e Territórios, deferiu o pedido da ação e determinou remoção ao ICDF dentro de 24 horas, sob pena de multa ao DF de R$ 5 mil por dia, em caso de descumprimento. O instituto, apesar de ser unidade privada, atende pacientes encaminhados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) por meio da Central de Regulação de Leitos. A Defensoria alertou a Justiça, em 8 de agosto, de que a decisão não havia sido cumprida. “A regulação disse, por ofício, que ela seria atendida entre 48 e 72 horas, mas isso passou e nada aconteceu. Ninguém dava notícia”, contou Antonio. O ICDF tem oito leitos de UTI pediátrica, sendo três regulados pela Secretaria de Saúde. A pasta informou, por meio de assessoria, que todos os leitos estavam lotados até então, por isso a demora em fazer o atendimento.

Demora
O defensor público do Núcleo de Saúde da DPDF Ramiro Sant’Ana atuou no caso e acredita que a soma dos esforços da família, da Defensoria e do Núcleo de Judicialização da Secretaria de Saúde foi essencial para que a decisão fosse cumprida. “Claro que uma semana não é a espera ideal, mas a criança estava recebendo assistência. Temos percebido que, em alguns pontos, houve avanços nas respostas”, afirmou. Ainda assim, Sant’Ana afirma que os defensores atendem, diariamente, grande demanda judicial para garantir leitos de UTI.

“É muito sofrimento. Estava vendo a hora de perder a minha filha por descaso do governo. Nunca nem peguei minha filha no colo”, desabafou a mãe. No fim da tarde de ontem, a confirmação de que a transferência finalmente sairia deu esperança à família. “Vocês ainda escreverão sobre o sucesso da cirurgia da Júllya”, adiantou Rafaele. Agora, a menina deve ser avaliada pela equipe do ICDF, que decidirá qual é o tratamento ideal para o raro caso.

Fonte: Correio Braziliense 

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