segunda-feira, setembro 12, 2011

Brasil dá 'sinais mais claros' de desaceleração, diz OCDE

O Brasil é o país que dá sinais mais claros de desaceleração econômica entre as principais economias do planeta, afirma a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).

De acordo com o relatório mensal da entidade, divulgado nesta segunda-feira, o indicador que antecipa a atividade econômica nos próximos seis a nove meses está mais fraco no Brasil que em qualquer outro dos principais países emergentes ou industrializados.

O chamado indicador composto avançado (CLI, na sigla em inglês) tem como base o valor 100, que representa a intensidade da atividade econômica no longo prazo.

Depois de se recuperar dos efeitos da crise econômica de 2008, o Brasil vinha conseguindo manter um indicador levemente acima da tendência.

Neste ano, porém, o CLI caiu abaixo dos 100 pontos, até chegar a 95 em julho. Em relação ao mês anterior, isto representa uma queda de 1,7%.

"É um indicativo forte de que o Brasil terá uma desaceleração nos próximos seis a nove meses", disse à BBC Brasil o porta-voz da OCDE Nadim Ahmad.

"Mas a intensidade dessa desaceleração não é algo que possamos medir através do CLI. Não podemos dizer que a desaceleração no Brasil será mais intensa que em outros países, apenas que temos mais certeza de que ela ocorrerá."

Mundo em desaceleração

O CLI é um indicador qualitativo – mais que quantitativo – criado para antecipar em cerca de um semestre as tendências da atividade econômica nos países medidos.
A medição considera diferentes indicadores econômicos de curto prazo ligados ao PIB, como a produção industrial.

Em julho, a organização detectou sinais de desaceleração em praticamente todos os países, embora na maioria dos desenvolvidos a atividade tenha permanecido acima de 100.
Isto os coloca na categoria de em "leve desaceleração", pelos critérios da OCDE. Nesta classificação ficaram a zona do euro e os Estados Unidos.

No Japão, onde nos últimos dois meses os sinais de atividade econômica permaneceram estáveis, a OCDE acredita que a economia já esteja chegando próximo do ponto de inflexão.
Entre os emergentes, o indicador na China caiu 0,2% em julho, mas continua em 100,3, o que indica uma leve desaceleração.

A Índia é o segundo país onde os especialistas mais vêem sinais de queda no ritmo do crescimento da economia. O CLI indiano em julho ficou em 95,7.(BBC)

Índice que reajusta aluguéis quase dobra na primeira prévia do mês

O Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), que serve como referência para reajuste em contratos de aluguel, subiu 0,43% na primeira prévia de setembro. A taxa, divulgada nesta sexta-feira (9/9) pela Fundação Getulio Vargas (FGV), superou o resultado de igual período do mês anterior, que foi 0,22%. No ano, o indicador acumula alta de 3,93%, e no período de 12 meses, de 7,23%.

O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) aumentou de 0,28% para 0,49%. Os itens que mais contribuíram foram: minério de ferro (de -1,94% para 2,97%), café em grão (de -2,57% para 7,59%) e soja em grão (de 1,97% para 4,09%). Também houve elevação em materiais e componentes para a manufatura (de -0,99% para -0,46%).

O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) também pressionou o IGP-M no período, passando de 0,07% para 0,42%. Cinco das sete classes de despesa registraram acréscimo em suas taxas de variação. A principal contribuição partiu dos alimentos (de -0,25% para 0,60%), principalmente frutas (de 1,24% para 5,53%), hortaliças e legumes (de -4,54% para -2,84%) e carnes bovinas (de -0,12% para 1,36%).

Também apresentaram acréscimo em suas taxas os grupos vestuário (de 0,25% para 1,92%), saúde e cuidados pessoais (de 0,39% para 0,54%), educação, leitura e recreação (de -0,02% para 0,16%) e transportes (de 0,12% para 0,20%).

Por outro lado, diminuíram as taxas de habitação (de 0,25% para 0,21%) e despesas diversas (de 0,08% para -0,01%).

O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) foi o único componente do IGP-M a apresentar decréscimo no período, tendo passado de 0,16% para 0,10%. Os materiais, equipamentos e serviços diminuíram de 0,26% para 0,18% e o custo da mão de obra, de 0,06% para 0,01%.

Para calcular o IGP-M, foram coletados preços entre os dias 21 e 31 de agosto.(Agência Brasil) 

domingo, setembro 11, 2011

Ensino brasileiro precisa de aula de inovação


Em um mundo em que inovar é sinônimo de desenvolvimento, é preciso modernizar o ensino das ciências. Estudiosos e escolas já estão nesse caminho

Uma certeza vem se impondo entre cientistas, economistas e outros especialistas: a capacidade de inovar  – de transformar ideias em produtos rentáveis – tornou-se um fator determinante no desenvolvimento econômico das nações. O Brasil ainda precisa dar um salto nesse campo. Em 2009, por exemplo, o país pediu o registro de apenas 464 patentes nos Estados Unidos, ao passo que a Coreia do Sul, no mesmo período, fez 23.950 requisições. "Nações que investem mais em pesquisa e desenvolvimento e que mantêm um setor produtivo mais inovador registram maiores e melhores indicadores econômicos e sociais", diz Luiz Ricardo Cavalcante, técnico de Planejamento e Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Segundo especialistas, várias motivos explicam a situação do Brasil – um deles é o baixo investimento de empresas nacionais em pesquisa e desenvolvimento. Mas é certo que parte do problema, de acordo com os mesmos estudiosos, se assenta sobre a educação. O ensino das ciências exatas no país está em descompasso com o mundo do século XXI e não estimula crianças e jovens à pesquisa e, portanto, à invenção. "O Brasil tem um dos menores índices de patentes per capita. Isso é preocupante", diz o brasileiro Paulo Blikstein, engenheiro e professor da Universidade de Stanford. "Somos grandes exportadores de commodities, mas isso não é suficiente. Se não investirmos em conhecimento científico e inovação, não teremos um crescimento sustentável." Não é coincidência, portanto, a relação entre quantidade nacional de patentes e desempenho em avaliações de ensino como o Pisa, patrocinado pela OCDE: os países mais inventivos são aqueles cujos alunos do ensino médio se saem melhor  em provas de matemática e ciências.

 Há quase uma década, Blikstein vem descobrindo formas de ajudar não só o Brasil, mas o mundo, a ser mais inovador. Em seu centro de pesquisa no Vale do Silício, região da Califórnia que concentra empresas de alta tecnologia, o brasileiro se dedica a descobrir novas formas de ensinar ciência e matemática. "Se continuarmos formando crianças e jovens que odeiam as ciências exatas, como construiremos uma geração de inovadores?", questiona. "Os grandes cientistas se apaixonaram pela ciência e foram fundo no assunto. Precisamos despertar essa paixão."

O pesquisador não é voz dissonante. É consenso entre especialistas que os números, teoremas e equações estão cada vez mais distantes da vida dos estudantes – e os afasta do conhecimento científico. "O nosso sistema educacional não valoriza a criatividade. As escolas ainda estão preocupadas em formatar o aluno parar as provas. Com um método livresco, a ciência passa a ser inatingível, descolada da vida real", aponta Eduardo Valadares, professor do Departamento de Física da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e autor do livro Física Mais Que Divertida, que propõe aplicações práticas para as temidas fórmulas que assustam milhões de estudantes.

É certo dizer que o Brasil avançou na última década em matéria de pesquisa e desenvolvimento. Entre 2001 e 2010, dobrou no país o número de mestres e doutores formados, passando de 26.000 para 53.000, de acordo com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Mas esse salto ainda não se reflete em inovação. Atualmente, o Brasil é responsável por aproximadamente 2,5% dos artigos científicos que circulam em periódicos especializados. No entanto, o país só detém 0,1% das patentes do planeta. "O que conseguimos até agora é louvável, mas insuficiente. Só poderemos dar um salto quantitativo e qualitativo que se faz necessário universalizando o acesso à ciência e tornando-a atraente aos olhos dos jovens", resume Marcelo Viana, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM).

Para isso, especialistas defendem uma mudança radical nos currículos escolares. Os experimentos de Blikstein nos Estados Unidos dão boas pistas sobre qual caminho seguir. Um de seus projetos prevê tornar a inovação uma disciplina curricular. Com um laboratório com tecnologias de baixo custo, ele incentiva estudantes a serem protagonistas de grandes e pequenas transformações. "Há décadas as escolas começaram a introduzir no currículo disciplinas como química e física porque perceberam que era preciso formar mais pessoas nessas áreas. É o mesmo que temos que fazer hoje com a inovação científica", diz.

Recentemente, Blikstein recebeu da National Science Foundation um prêmio de 600.000 dólares para investir nos próximos cinco anos em um outro projeto, que consiste em trazer avanços recentes da tecnologia para a sala de aula. "Ciência não se faz mais só com tubos de ensaio. Atualmente, ela é feita com tubos de ensaio conectados a computadores, que rodam modelos matemáticos. O que eu faço é levar isso para a escola, levar ciência de ponta para o aluno", descreve Blikstein. O prêmio, concedido a jovens docentes, é o reconhecimento de que o incentivo à ciência desde os primeiros anos escolares se faz necessário.

O Brasil tem muito trabalho a fazer. As empresas nacionais investem um quarto do que as americanas investem em pesquisa e desenvolvimento – um dos grandes propulsores da inovação. Outra triste comparação: em 2008, destinamos 0,53% do Produto Interno Bruto (PIB) para aquele fim, ante 2,2%, em média, das nações da União Europeia. Segundo os especialistas, para que essa taxa cresça é preciso mais investimento privado e público. Mas não só. Um ambiente econômico favorável, com taxas de juros mais baixas e um câmbio mais favorável também contribuiriam para um Brasil mais inovador, além de incentivos fiscais e linhas de crédito. "Durante muito tempo, as empresas brasileiras puderam prosperar sem ter que inovar. Com a integração do mundo, a partir da década de 1990, era preciso descobrir como fazer mais e melhor do que outras empresas no mundo", diz Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Mais do que nunca, aprender a inovar é preciso. Que a aula comece cedo.(Veja)