IPCA sobe 0,64% em abril com preços de cigarros, diz IBGE
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,64 por cento em abril, após alta de 0,21 por cento em março, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira. Trata-se da maior elevação mensal desde abril de 2011, quando ficou em 0,77 por cento, e acima do esperado pelo mercado.
No acumulado de 12 meses até abril, o IPCA avançou 5,10 por cento no mês passado, mostrando queda ante os 5,24 por cento de março. Mesmo assim, ainda permanece acima do centro da meta oficial do governo, de 4,5 por cento neste ano.
Analistas ouvidos pela Reuters esperavam uma alta de 0,59 por cento no mês passado, acumulando em 12 meses alta de 5,06 por cento, de acordo com a mediana de 21 previsões. Para o mês passado, as projeções variaram entre 0,55 e 0,65 por cento.
"Desde setembro o índice de 12 meses vem desacelerando, cada vez mais influenciado pela menor pressão de alimentos, que foram determinantes para a forte alta do IPCA no começo do ano passado", afirmou a jornalistas a economista do IBGE, Eulina Nunes dos Santos.
De acordo com o IBGE, o principal destaque no mês foi o preço dos cigarros, com alta de 15,04 por cento, além de ser o principal impacto no mês, com 0,12 ponto percentual no indicador. Também pesaram os salários dos empregados domésticos, que ampliaram a alta de 1,38 por cento vista em março para 1,86 por cento no mês passado.
Os preços dos remédios também subiram 1,58 por cento em março e, segundo o IBGE, esses 3 itens contribuíram com 0,24 ponto percentual no IPCA de abril, o equivalente a 38 por cento da taxa.
Segundo o IBGE, os outros setores que exerceram pressão sobre o IPCA no mês passado foram as despesas pessoais, com alta de 2,23 por cento, com destaque para excursões (+1,88 por cento), hotéis (+1,63 por cento) e serviços bancários (+1,42 por cento).
A lista de pressões de abril incluiu itens administrados, controlados e serviços. Além disso, o IBGE identificou os primeiros sinais do repasse da alta do dólar aos preços. Nesta quarta-feira, o dólar já voltou ao patamar de 1,85 real.
"Normalmente, quando o dólar sobe, (preços dos) produtos e artigos de limpeza sobem", destacou a economista do IBGE. "Há indícios ainda na lista de alimentos impactados pelo dólar, como óleo de soja, alho, cerveja, que leva malte, além do fato de o dólar mais forte favorecer as exportações", adicionou ela.
Os preços monitorados subiram entre março e abril de 0,18 para 0,47 por cento, enquanto que os serviços de 0,52 para 0,76 por cento.
Em maio, o IPCA será novamente impactado pelos preços administrados. Segundo Eulina, o índice vai captar altas de tarifa de energia de Porto Alegre (RS), Belo Horizonte (MG), Recife (PE), Salvador (BA) e Fortaleza (CE), entre outros.
"O mês de maio, pelos reajustes já concedidos, é um mês de pressão de administrados, mais do que foi em abril", acrescentou ela.
JUROS MENORES
Apesar do movimento mais expressivo, segundo analistas, o Banco Central deve continuar reduzindo a Selic -hoje em 9 por cento ao ano- porque, em 12 meses, o IPCA continuou desacelerando. Segundo o IBGE, a alta acumulada em 12 meses no IPCA até abril, de 5,10 por cento, é a menor desde setembro de 2010, quando estava em 4,70 por cento.
"Apesar da surpresa mensal, na base anual a inflação continua recuando e deixa o Banco Central mais tranquilo para cortar os juros, mas de maneira menos agressiva", afirmou o estrategista-chefe do WestLB, Luciano Rostagno.
O comportamento da inflação é crucial para o BC dar continuidade à política de redução da taxa básica de juros, hoje em 9 por cento ao ano, na busca de mais estímulos à economia. O objetivo do governo é garantir uma expansão na casa de 4 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, apesar de internamente reconhecer que a tarefa é complicada.
Desde agosto passado, o BC já reduziu a Selic em 3,5 pontos percentuais e já deu indicações que deve continuar cortando com "parcimônia". O mercado acredita que, em maio, a taxa básica de juros deve ir a 8,50 por cento ao ano. Sobre a inflação, as estimativas apontam que o IPCA fechará este ano em 5,12 e 2013, em 5,56 por cento.
E para abrir espaço para mais reduções na Selic, o governo anunciou na semana passada alterações nas regras da poupança, cuja remuneração fixa era considerada um entrave para tal política de afrouxamento monetário.
Na terça-feira, já havia aparecido sinais de retomada de fôlego da inflação. O Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna (IGP-DI) acelerou a alta para 1,02 por cento em abril, ante elevação de 0,56 por cento em março, segundo dados da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Para o economista-chefe do Credit Agricole, Vladimir Caramaschi, o resultado do IPCA ainda é pontual e, por isso, acredita que o BC pode se apoiar na inflação acumulada em 12 meses para continuar a reduzir os juros.
"A pressão sobre serviços continua bastante forte, refletindo o mercado de trabalho estar numa situação bastante boa. Então, não é resultado (IPCA) que o BC deve estar comemorando, não. Mas é resultado ainda pontual, não dá para tirar grande conclusões", afirmou ele.(Reuters)
Nenhum comentário:
Postar um comentário