quarta-feira, fevereiro 13, 2013

Nova Lei Seca: enxaguante bucal, três anos de cadeia

Nova Lei Seca: enxaguante bucal, três anos de cadeia

 
 
“Há duas formas de a lei penal não produzir eficácia: quando ela não é aplicada, garantindo dessa forma a impunidade do infrator, ou quando ela é exageradamente desproporcional, desequilibrada e desarrazoada”.


Por força da Resolução 432/13 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), que regulamentou a Lei 12.760/12 (nova Lei Seca), um bombom com licor poderia significar para o motorista R$ 1.915,40 de multa, um ano sem carteira, apreensão do veículo, sete pontos no prontuário etc. Um enxaguante bucal pode significar até três anos de prisão. Como assim?

O Brasil, com a política da “tolerância zero” de álcool no sangue, se tornou um dos 12 países do mundo mais rigorosos em matéria de embriaguez ao volante. Dentre os 82 países pesquisados pela International Center for Alcohol Policies (EUA) (Folha de S. Paulo de 25.06.08, p. C3), 11 deles adotavam o tolerância zero de forma absoluta: Armênia, Azerbaijão, Colômbia, Croácia, República Tcheca, Etiópia, Hungria, Nepal, Panamá, Romênia e Eslováquia. A esse rol agora temos que acrescentar o Brasil, 12º país a se incorporar ao restrito grupo da tolerância zero.

Ficar sem habilitação durante um ano em virtude de um bombom com licor, no entanto, nos parece uma regra excessiva. Há duas formas de a lei penal não produzir eficácia preventiva: quando ela não é aplicada, garantindo dessa forma a impunidade do infrator (caso Edmundo, por exemplo), ou quando ela é exageradamente desproporcional, desequilibrada e desarrazoada.

A criminologia midiática, por força do populismo penal, normalmente apoia tudo quanto é tipo de endurecimento das normas, porque ela acredita, tanto quanto nossos ancestrais das cavernas, que pintando o animal na parede já se tem a posse dele (que basta a edição de nova lei e tudo vai ser resolvido). Ela acha que quanto mais dureza, menos crimes. Crença infundada. De 1990 a 2012, o legislador brasileiro aprovou 86 leis penais e nenhum crime diminuiu (muito menos as mortes no trânsito).

A reportagem da Folha de S. Paulo (31.01.13, p. C9), com autorização da Polícia Militar, fez o seguinte teste: uma pessoa comeu um bombom com licor, outra usou um enxaguante bucal e a terceira bebeu 200 ml de cerveja (menos de meio copo de cerveja). Em seguida passaram pelo etilômetro (bafômetro). Resultado: 0,08 mg, 0,34 mg e 1,31 mg, respectivamente. A primeira situação teria sido enquadrada na infração administrativa e as duas últimas no crime do artigo 306.

Dura lex sed lex, disse o militar (com outras palavras) que acompanhava o teste.

Os critérios puramente quantitativos, como se vê, criam situações de muita injustiça e de desequilíbrio. A resolução citada, de qualquer modo, tem fundamento no disposto no artigo 276 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB): “Qualquer concentração de álcool por litro de sangue ou por litro de ar alveolar sujeita o condutor às penalidades previstas no art. 165“(redação dada pela Lei 12.760, de 2012)”.

A tolerância zero passou a ser absoluta em relação ao exame de sangue e relativa no que diz respeito ao etilômetro, visto que ele exige o mínimo de 0,05 mg/L de ar alveolar expirado. Nada, praticamente nada, escapa do novo regramento jurídico.

O parágrafo único do artigo 276 diz:

“O Contran disciplinará as margens de tolerância quando a infração for apurada por meio de aparelho de medição, observada a legislação metrológica”. (Redação dada pela Lei nº 12.760, de 2012). Isso foi feito na Resolução 133/2012.

A tolerância, antes, equivalia a 0,1 miligrama de álcool por litro de ar alveolar, correspondente a dois decigramas de álcool por litro de sangue. Havia uma alcoolização absolutamente insignificante inclusive para fins administrativos (sancionatórios). Com a nova resolução tudo se alterou. A tolerância é praticamente zero (0,05 mg/L).


Mas é justo cassar a habilitação, por um ano, de quem, com baixíssima ingestão de álcool ou outra substância psicoativa (bombom com licor ou enxaguante bucal), dirige normalmente, com segurança, com domínio da direção, sem afetar, com uma condução anormal, o nível de segurança viária, muito menos o princípio da condução segura?

Não seria o caso de se aplicar o princípio da insignificância, livrando o sujeito de qualquer tipo de sanção? Ou, pelo menos, não seria o caso de se fazer um segundo teste do etilômetro, alguns minutos depois? No caso da reportagem da Folha de S. Paulo, 15 minutos depois nada mais foi constatado! Daí o novo posicionamento do capitão da PM Sérgio Marques: “O motorista tem o direito de aguardar 15 minutos antes de fazer o teste” (a contraprova). Para ele, o bombom com licor não vai dar multa (O Estado de S. Paulo de 04.02.13, p. C1).

Uma legislação tão rigorosa como a que temos agora acaba desestimulando até mesmo a colaboração do motorista, que certamente vai raciocinar da seguinte maneira: é melhor não fazer nenhum tipo de teste e deixar que tudo seja julgado pelos “sinais indicadores da embriaguez”, que implicam uma valoração subjetiva fluida e lotérica. Soprando o etilômetro, com certeza vai haver punição e até mesmo injustiça. Não soprando, pode ser que sim, pode ser que não. Logo…

Luiz Flávio Gomes, jurista e professor, preside o Instituto Avante Brasil 
 institutoavantebrasil.com.br


Gostei muito desse texto do Luiz Flávio!Este é um dos muitos exemplos do atraso do nosso país.Uma lei que a princípio deveria ser um avanço nada mais é do que um engodo para o povo.E eu fico me perguntando: a quem interessa uma lei tão rígida assim?Quem está realmente ganhando com ela? Porque o número de acidentes no trânsito não diminue!As estatísticas são altas sempre!Não é possível fiscalizar todo mundo o tempo todo, ao mesmo tempo!A fiscalização é aleatória!Aqui em Brasília basta o dono do bar pagar a"caixinha" que não tem fiscalização perto, mas se parar de pagar, tem sim, toda noite uma blitz na porta do seu estabalecimento...Que lei é essa???????Brasileiro é bicho burro mesmo!Merece ser tratado como gado!!!O Brasil está no rol de países totalitários e atrasados...estamos equiparados a Etiópia e ao Azerbaijão!!!Também com uma população que não questiona nada!Aceita tudo de cabeça baixa!Só podia estar no mesmo rol da Etiópia!


E aqui esta jornalista pergunta:onde estão as estatísticas deste mesmo governo( que não é o meu governo) sobre os acidentes de trânsito causados pelas más condições das estradas brasileiras?Qual é o percentual de vítimas dos buracos?Quantas pessoas morreram e quantas ficaram feridas ou com sequelas pela falta de sinalização e falta de iluminação das vias e rodovias deste país? O mesmo Contran e os outros órgãos fiscalizadores deveriam divulgar para a população estes números com a mesma veemência que divulgam a chanchada dessa "Nova Leia Seca".Vá você cidadão perguntar sobre estes números! O Contran e os demais órgãos simplesmente  não sabem!!! Para mim esta "Nova Lei" tem uma máfia por trás!E que máfia!!!




Nenhum comentário:

Postar um comentário